terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Desencontros de pares

Como é difícil conviver com o outro. Tão óbvio, tão simples, tão real que o outro é o outro. Não há simetria, complementação entre duas pessoas possível de se efetivar. O que há, são encontros esporádicos e inúmeros desencontros. No amor, o engodo da relação denuncia a especularidade do par sexual.
Espelho, imagem, enganos. O que temos de real é a dificuldade de se relacionar com o que o outro não nos dá. O outro não alimenta nossas expectativas, nos frustra, nos revela a dissimetria entre os sexos. Tudo pela via da linguagem e do que ela nos fornece: a castração.
Lacan, no seminário 18 afirma: "A linguagem, em sua função de existente, só conota, em última análise, a impossibilidade de simbolizar a relação sexual nos seres que habitam essa linguagem" (p.139).
Como cada um habita a linguagem?
O mal entendido, o equívoco, o desencontro,  fazem parte do casal. A questão é como conviver melhor com a nossa falta para poder conviver com a falha do outro, com o que o outro não nos dá.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A dança é um apelo ao Outro

A fantasia do sujeito dançante se atualiza a cada dança.
A dança dá forma ao não-dito, ao indizível.
O dançante, exibe um diálogo ao espectador, um diálogo entre ele bailarino e e ele mesmo.
Quem é o Outro para aquele que dança?
É como se o Outro, tesouro dos significantes, o Outro enigma da feminilidade, o Outro da lei, da linguagem é o próprio sujeito. O Outro não existe!!!!!!

Cada corpo pulsante vive seu paradigma,
O singular do sujeito dançante é sua fantasia.
O corpo, ainda pulsa.
O olhar ser olhado se presentifica.
Ausência e presença em sua alternância com sua dialética,
Fazem da angústia o motor do corpo vivo pulsante.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Amor vampiro. Amor?

Quantos de nós estamos sujeitos a um amor do tipo vampiro? Uma forma de relação aonde o outro nos suga. O servo, se coloca á disposição para ser sugado, abusado até a última gota. Neste lugar, ele não deseja, não vê, não existe. É um lugar morto. O sujeito/objeto se coloca como morto em vida. Este lugar que podemos denominar de lugar objetal, é um lugar de inexistência.
Que faz com que o ser seja engolido por um monstro? Alguns, não têem a possibilidade de escolha. Outros, sim.
Esta relação trás sofrimentos desnecessários para o servo. A vida, já é sofrida. Porém, sofrer na morte do sujeito é uma falta de ética em relação ao desejo. É imperdoável. Como um sujeito/objeto quando se dá conta da relação que estabelece com o outro pode tomar uma decisão? Que tipo de decisão tem condição de tomar?
Perde tempo. A vida passa. Terás muito tempo para morrer.
O vampiro precisa de amor. Mas, um amor que dá limite, que separa. Um amor, que revela até onde vai o sugador e até onde vai o sugado. Com o limite, a relação muda. Não se trata mais de sujeito-objeto e sim de outra coisa.
Hegel, precisou majestosamente este tipo de relação. Há um gozo naquele que é sugado. Ele reconhece o sugador como seu senhor.O que suga, não goza, não reconhece.
Ambos estão doentes, mas, o sugado talvez tenha mais chances.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A perdição feminina

Por onde andas? Donde estão las mujeres?
Atualmente, aparece na clínica um fenômeno sintomático generalizado feminino: A falta de uma identidade. As mulheres, suas incompletudes, suas maneiras de preencher o vazio existencial e suas saídas para o ser mulher no século XXI são motivos de alto grau de sofrimento nos consultórios.
O que é ser mulher hoje? Até pouco tempo, a resposta era simples. Ser mulher, é ser mãe. E hoje? Dia 31/10/2011? Que é o feminino?
O feminino é algo a ser construído. Proponho um tornar-se mulher. Não é algo dado. Best sellers de auto ajuda podem dar uma idéia, mas, é impossível seguir a série de receitas dadas, prontas. Neles, encontram-se respostas para tudo. O problema é que o sintoma continua. Cada uma é uma.
As mulheres continuam sem saber o que fazer se o cara não ligou, se o cara ligou, se elas sabem ou não seduzir, se é o homem que não sabe olhá-las.
A mulher quer ser vista de determinada maneira. Cada uma é singular e quer ser olhada de determinada forma.
Qual forma tu queres ser vista? Mesmo as tímidas, envergonhadas querem aparecer de alguma maneira. Nem que seja pelo significante tímida.
A mulher quer ser desejada, amada, vista e reconhecida pois isso pode ser condição dela ser desejante. Para muitas, a possibilidade de desejar está atrelada a ser ou não ser desejadas.
Uma das muitas angústias das mulheres é a pergunta: O que o outro quer? O que o homem deseja? O que faço que o outro me deseja ou não. Consigo seduzir?
Aí jaz um grande sofrimento para muitas. O Não consigo. Se o outro não me quer, é porque eu não consigo. Ela cai depressão.
Uma análise, cai muito bem para o não consigo. A possibilidade de realmente saber o óbvio, que o outro é o outro, que não temos como dar conta do desejo do outro até porque nem sabemos do nosso, é a chave para a conclusão feminina: Não consigo.
A análise dá limite ao ser feminino. Ajuda a construir uma sensualidade. Para tal, não há best seller de auto ajuda que dê conta.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A psicanálise, uma questão de fé?

"A fé move montanhas"...
O que é essa tal de fé? Fazer uma análise é acreditar em algo? É uma questão de fé a psicanálise?
 Do que trata ela, a psicanálise? Do que trata a fé?
Da crença? Da verdade absoluta? Da cegueira? Do ópio do povo?
De que se trata quando acreditamos em algo?
Acreditamos, de fato, que a fé move montanhas? O que nos move? É a fé?

O que nos move, é uma questão de análise. Do um a um.
A fé move? Movimenta? Ou aprisiona? Fecha?

A pergunta que posto é: seria a psicanálise uma questão de fé? Ou se acredita ou não? Caso afirmativo, fé em quê?
O inconsciente não existe!!!!!!!!!
Caso seja uma questão de fé, poderíamos pensar na fé na transferência. Acreditamos que o outro tenha um saber, ainda que suposto. Não é uma fé sega.
Porém, o outro não sabe e?????

O outro deveria sim, saber o que lhe causa, lhe move.

Nesta época em que vivemos, não há um Outro que nos diz o que é certo ou errado, um Outro senhor da lei, do tesouro dos nossos significantes. A quem nos dirigimos? O sujeito que procura uma análise se dirige a quem?
 Fazer uma análise tem algo da ordem de uma crença. Não uma fé. Uma crença de que o analista tem algum saber que pode ser transmitido. De fato, ele tem. Porém, tem algo que não pode ser transmitido. Que será?

É um ritual o setting analítico, porém, a análise não ocorre somente no consultório.
Não há um mestre/ padre/ rabino/ pai de santo/ xamã/ pastor/psicólogo/psiquiatra/terapeuta holístico/ astrólogo, que guie o sujeito em sua dor, que lhe diga o que tem e como resolver o problema. Que lhe venda a ilusão de plenitude.
O que há é um analista que pode presentificar a falta, o vazio. Fazer semblant. Ele presentifica o não saber. Ele pode testemunhar e secretariar a loucura nossa de cada dia. 

Mas, por saber que não passa de um semblant, ele pode transmitir justamente que não há uma verdade absoluta. Afinal, ela só pode ser semidita. A fé, pede números inteiros, pede completude. Na psicanálise, não temos o inteiro. Temos o incompleto.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O discurso psi das mães e pais perdidos

É um fato. Pais sofrem, se angustiam, fazem loucuras, erram, acertam, ignoram, são gente de carne e osso. Muitas vezes, dão significados aos sintomas e ações do filho que são equivocados. O equívoco, não é em relação a estar interpretando certo ou não, mas, são os próprios filhos que muitas vezes sabem de que se trata em seus sofrimentos.
A dificuldade se faz presente. Não é fácil endossar a posição do filho. Na verdade, o difícil parece ser perceber que o filho tem desejos próprios, questões próprias e que sofre. Nesse campo, os pais, por sua vez, sofrem também.Senten-se impotentes, insuficientes e muitas vezes se distanciam em função de tamanha  dor de ver seus filhos sofrendo.
A área psi, oferece um amplo leque de atuações, idéias, tratamentos ás crianças.
Como a psicanálise trata, olha e entende esse desconforto entre pais e filhos?
Cada analista dirige cada caso singular. Porém, o que existe para esta área do saber é: o não saber.
O analista não sabe, os pais tampouco.Isso não tira a responsabilidade do lugar de pai e mãe.
A psicanálise pode oferecer a construção deste lugar. Sem regras, sem certezas. Com singularidades.
Pode ela orientar? Que tipo de orientação um analista dá? Aquela que diz: Não há receita. Os ingredientes estão aí, alguns podem faltar. Se faltar algum, o analista construirá junto com os pais e a criança. Se estão todos disponíveis, a direção é: Como fazer o bolo? Como os pais e o filho querem executar a receita?
É nisso que pais, mães e filhos são responsáveis. Cada um faz o bolo do jeito que é possível.

Palavras de mulheres dançantes

Uma vez, uma professora de dança me falou que seu corpo dói. Ela dizia: "Para uma musculatura se desenvolver, há, necessariamente uma lesão". Perguntei se não teria outra maneira de desenvolver o corpo, de trabalhá-lo sem que a dor esteja presente. A resposta, foi não.
Coloco a questão sobre o lugar da dor no corpo que se manifesta em vários bailarinos. Eles relatam, que, se o corpo dói, esse fato, é uma maneira de sentir que estão fazendo.
Seria um acting out?
Um imperativo? Tem que doer !
Uma posição dualista?
De que se trata do ponto de vista do corpo em psicanálise? Que corpo é esse?
Poderíamos pensar em uma fantasia de corpo morto?
O que quer dizer sentir que está fazendo? Fazendo o quê?
Questões iniciais para pensar em um trabalho de articulação entre dança- corpo- psicanálise.
Que sujeito é esse que diz ter que sentir dor para trabalhar o corpo?
Uma face masoquista?
Não parece ser tão simples a resposta.
Porém, o fato pede uma interpretação. De que se trata?

O médico, o paciente e o analista

Como é difícil para um analista em instituição dialogar com o médico que receita medicação para seu paciente! Que acontece que os campos da medicina e da psicanálise se apresentam tão distantes na questão do olhar e do tratamento?
Os psi, encontram sérias dificuldades de estabelecer um diálogo com médicos. Os médicos, quando não sabem o que fazer, encaminham para os psi. Porém, não dialogam.
Como costurar, criar um espaço de interlocução entre as duas áreas? Porque?
É mais fácil justificar do que costurar. É simples. Visando o paciente, este é o que mais tem a ganhar com esta interlocução.
Como ? Eis a questão. A medicina, em seu discurso de saber absoluto, deveria olhar para os sintomas não somente como algo aparente, mas, sim, como uma pergunta. Uma das maiores dificuldades dos médicos é a questão do não saber. É justamente aí, que a psicanálise pode acrescentar e o paciente se beneficiar.
A psicanálise dá lugar ao não saber. Isso causa uma certa dose de angústia, mas, faz toda a diferença na formação do médico. Este, não é analista, mas pode reconhecer que tem algo misterioso, algo que ele não entende. Com isso ele poderá avançar no tratamento de seu paciente. Como?
Tendo alguém, um lugar que ele se sinta confortável com sua falta de saber, ele terá que avançar e trabalhar, de fato, cada caso que atende. Falando, ele pode construir um saber a mais.
Ele poderá também, se distanciar um pouco da alienação do discurso médico. Traduzindo, ele vai olhar cada caso, como singular. Justamente o que a medicina anula. esse fato, é e será um diferencial.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Medicação para todos; análise para alguns

Freud dizia que o analista deve recuar diante da psicose. Ele não via possibilidade de um psicótico ser atendido por um analista. O universo excludente que foi se criando em torno da psicanálise, propiciou o lugar de exclusão. Excluídos da análise, aqueles que não podem bancá-la (tanto financeiramente quanto psíquicamente).
Lacan construiu o conceito de sintoma, envolvendo Marx na questão da proletariedade. Inovou! Somos proletários de saber inconsciente. Justo aí que a noção de sintoma aparece. Não sabemos dos nossos sintomas.
A parte questões analíticas, a indústria farmacêutica progride. Cria novas e mais novas medicações. Não só para psicóticos. Medicações para qualquer um que estiver um pouquinho preocupado com qualquer questão. O CID também acompanhou esta evolução da indústria farmacêutica. Criou transtornos e mais transtornos fazendo com que qualquer mortal se identificasse com um ou mais transtornos.
E? O que fazemos? Pergunto a todo e qualquer ser humano. Somos engolidos pela organização que produz doenças e remédios? Perdão! Eles são muito bons. tiram nossas questões, nos amortecem e nos deixam ver a vida mais bonita. Porém, quando paro a medicação, na maioria das vezes, por conta própria, o mundo desaba.
Desaba? Não. O mundo volta a ser o que era. O bicho papão ainda existe e está lá.
Outra forma de dizer, a sujeira está embaixo do tapete. A dor está lá. Será que não temos recursos para enfrentar nosso fantasma? Queremos mesmo viver alienados ao discurso da ciência? O todo poderoso?

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O caso que causa...

Causa o quê?
O que causa cada caso singular de um analista?
Cada caso causa uma causa.
Cada causa pode indicar a direção do tratamento.
A questão é sobre a causa que o analista não suporta.
Estamos no terreno da ética do psicanalista.
Estamos no encontro entre a análise pessoal daquele que se dá para atender e nas possibilidades ou não de realizar o atendimento.
De fato, é uma questão ética.
O singular do sujeito que busca uma análise esbarra na fantasia do analista.
O analista, por sua vez, vai até onde sua análise foi, ou seja, até sua castração e o além dela.
Afirmo: a formação de um analista, para além de seus estudos teóricos, para além de um título, tem mais relação com a análise pessoal deste e suas supervisões.
Concluo: É uma questão ética saber do insuportável de um caso e decidir atendê-lo, ou não.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Louise Bourgeois

Arte e psicanálise! Não é só na teoria que estes saberes se encontram. Basta olhar a exposição tão bem preparada do curador e arquivista que conviveu com Bourgeois. Nesta, a articulação entre conceitos psicanálíticos e o que a arte se presta estão explícitos. Temas como pulsão de morte, alienação, estádio do espelho, acting out, trauma, castração, desamparo estão presentificados e condensados em suas obras.
A difícil separação da mãe em seu desenho que enfoca o cordão umbilical e a dor e o ressentimento de uma mãe que parece não ter lhe dado o suficiente. Como sempre, afinal, as mães, faltam.
A destruição do pai. Que pai é esse? O que precisou destruir deste homem? Alguém tem alguma informação sobre suas relações com pai e mãe?
E sobre o trauma? De que se trata?
A exposição, mais levanta questões. Causa. Causa angústia, perturbação, questionamento, reflexões.
Angústia pelo seu aprisionamento em relação á sua constituição psíquica.
Perturbação da ordem real. Seus trabalhos suscitam nossas pulsões de morte.
Questionamento sobre qual seriam seus nós. O que lhe aconteceu?
Reflexões acerca da função da arte. Ela escreve que a arte é uma forma de sanidade. Sim. Também.
Cabe aos analistas, desenvolverem como se dá a articulação entre esses dois mundos. O imaginário exposto e pedindo tradução e o olhar diferenciado que uma análise pode nos dar.
Louise sabe mais que qualquer analista sobre esse enodamento.
A quem podemos nos dirigir já que a artista /analista não está?
Morreu.
A impressão é que ela matou o pai, foi engolida pela mãe. Realizou a fantasia de ser devorada por uma mãe aranha. Desejou esta mulher.
Simplisticamente, matou o pai e ficou com a mãe.
Presa em sua história, sua dor.
Retratou-a com detalhes, muito trabalho psíquico, e primorosidade.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Aonde está Wally?

Atualmente, por onde andamos, ciscamos, farejamos, festejamos, entristecemos, adoecemos, aonde está o sujeito? Para ter uma boa qualidade de vida, devemos nos alimentar adequadamente. Tem uma matéria na revista Joyce Pascowitch de março de 2011 que trata da ditadura da qualidade de vida.
Uma endocrinologista, aborda questões sobre a singularidade. Uma endocrinologista! Como?
Ela coloca que devemos conhecer nosso corpo e não se perder nos modismos. Uma pessoa com problemas de tireóide, que apresenta baixo colestererol, deveria comer gordura. Ou seja, a teoria de que a gordura é uma grnade vilã não se encaixa para aquele corpo que apresenta o particular de baixo colesterol.
Protetor solar em excesso faz mal pois tira a vitamina D. Quem tem problemas de tireóride pode apresentar carência desta vitamina e enfraquecer os ossos.
No mês de junho/ 2011 no programa da cultura do mesa redonda esta o grande Alfred Halpern. Ele, absoluto, sabia de tudo e afirmava que obesidade é doença e que todos os obesos devem tomar remédio.
Um jornalista injuriado perguntou: Porque medicar todos? e o absoluto respondeu: "São todos doentes, têem que tomar remédio para o resto da vida". Aqui, não cabe discutir questões científicas médicas, mas sim, abrir um espaço para questionar.
Pois bem, a minha pergunta é: Aonde está o sujeito no discurso médico? O sujeito, aquele que é singular. Impressionante como a medicina, de certa maneira, infantiliza o sujeito fazendo com que ele não se responsabilize pelo seu corpo, suas escolhas, seus desejos.
O que fazer diante da homogeinização, da pasteurização, da alienação?
Resistir. Apresentar um discurso de resistência e de responsabilidade. Cavar um buraco aonde o discurso capitalista tapa.
Pensar na indústria farmacêutica que faz do médico, um mero objeto. Que por sinal, faz do paciente, outro mero objeto. Irresponsável. Neste ponto, há uma transmissão: "Crio o remédio (indústria), você cria a doença (médico) e o paciente, não tem nada com isso. Goza alienadamente.
Aos paciente, lembrem-se: Aumento de gozo, perda de desejo.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Serge André, Lacan e Freud acerca do feminino.

Serge André- um mestre do feminino, coloca que Lacan elevou a histeria a nível de estrutura de discurso. A bissexualidade da histérica significa um bi-gozo A bissexualidade não é uma divisão entre dois sexos e sim entre dois gozos, um todo fálico e outro o seu mais além.

Devido á ignorância da vagina, que Freud formulou, Lacan parece tirar a idéia da falta de um significante do sexo feminino. Lacan, segundo André nos faz compreender Freud: a vagina é ignorada enquanto sexo feminino, mas enquanto falo escondido, ela é conhecida até demais.

Libido:

Não há libido feminina, logo, Freud coloca esta questão do ponto de vista de uma divisão. A divisão de Freud é a seguinte: a libido é a mesma que anima homem e mulher, mas do ponto de vista de satisfação (ativo ou passivo) e do objeto (libido do objeto e libido do eu), a libido se cinde.

André coloca que Lacan retoma a questão da libido feminina, mas puxa-a para o lado do gozo. Haverá um gozo próprio da mulher? Destacando a questão da satisfação ativa e passiva, Lacan aponta a divisão entre dois tipos de gozo: um interditado pelo significante e ligado ao ser e outro permitido pelo significante e ligado à significação fálica.

Assim, Lacan desloca a questão da feminilidade do campo do sexo para o campo do gozo. A bissexualidade se torna um bi gozo e o problema se torna saber se há um gozo a mais além do masculino. Esse bi-gozo divide a libido e consequentemente o sujeito em duas partes: uma toda fálica e outra não-toda.

Quando Lacan diz que a mulher não existe, ele quer dizer que a feminilidade não é uma questão do ser, da existência e sim de um tornar-se. Se para Freud o furo do sexo feminino é totalmente recoberto, para Lacan, não. O falo não recobre a falta. Ele indica um além. Logo, não é um obstáculo á feminilidade, mas ao contrário, a condição de toda a feminilidade possível.




quinta-feira, 9 de junho de 2011

Continuação sobre o texto: "Intervenções sobre a transferência"

Por isso, Dora vai se identificando com o Sr k assim como com o próprio Freud. O segundo sonho foi um sonho transferencial no qual ela desperta com uma alucinação do cheiro de fumaça. Freud colocou que esta era uma identificação recalcada. Muito mais do que uma identificação, Lacan postula que essa alucinação correspondeu ao estado crepuscular do retorno ao eu. A relação com Freud e com o senhor k manifesta a agressividade do estádio do espelho.

Porém, mais do que a agressividade, Lacan coloca que Freud “deveria” ter se aprofundado na relação de Dora com a sra k. Ela, lhe fornecia a chave do mistério do feminino. Após Dora se aceitar como objeto de desejo esgotando o mistério que procurava na sra k, aí sim, poderia talvez estar “curada”.

“Assim com em toda mulher...o problema de sua condição, está, no fundo, em se aceitar como objeto de desejo do homem, e é esse o mistério, para Dora, que motiva sua idolatria pela sra k, do mesmo modo que em sua longa meditação diante de madona, e em seu recurso ao adorador distante, ela empurra para a solução que o cristianismo deu a esse impasse subjetivo, fazendo da mulher o objeto de um desejo divino ou um objeto transcedental do desejo, o que dá no mesmo”p221.

Lacan coloca que se numa terceira inversão dialética Freud tivesse orientado Dora para o reconhecimento do que era para ela a sra k, e esgotado o segredo de sua relação com ela, o tratamento caminharia. Freud identificou a falha na transferência e não na interpretação. Para Lacan a falha foi no adiamento da interpretação e não na transferência. Freud não se aprofundou no vínculo homossexual de Dora com a sra k.

Lacan entende que este não aprofundamento se deve que Freud reconheceu que durante muito tempo não foi possível se depara com essa tendência homossexual por preconceito. Assim, não pode agir de maneira satisfatória. Mesmo Freud reconhecendo que nas histéricas essa tendência é constante, ela não conseguiu agir neste ponto.

Lacan analisa que esse preconceito é o mesmo que mascara inicialmente a concepção do Édipo. Colocando o complexo como algo natural, sendo que não é. A primazia do personagem paterno no Édipo não é natural. Laca cita: “...é o mesmo preconceito que se exprime com simplicidade no conhecido refrão: tal como o fio para a agulha é a menina para o menino”p222.

Além disso, Lacan coloca que Freud simpatizava demais com o srk pois ele encaminhou o pai de Dora e se colocou demais no lugar dele. Por isso, voltava excessivamente na questão do amor que o Sr k suscitava em Dora. A partir deste olhar tendencioso, outro problema que Lacan coloca é: como Freud sempre interpretava que Dora se confessava sobre o Sr k, Dora se opõe. A crítica de Lacan: “...A sessão em que ele acredita havê-la reduzido a “não mais contradizê-lo”...é concluída por Dora num tom bem diferente. “Não foi grande coisa que apareceu”, diz ela, e é no começo da sessão seguinte que se despede de Freud.”223.

Lacan então se pergunta que aconteceu no lago que Dora adoeceu? Se prender ao texto para validar qualquer interpretação. O senhor K na cena do lago, só falou poucas palavras, porém, decisivas. “minha mulher não é nada para mim”. Dora deu-lhe uma bofetada. Se ela não é nada para você, que é você para mim? Que seria para Dora esse objeto que ela olhou durante anos com um certo feitiço e que ele acabou de romper com sua fala?

Após a cena, aparece a fantasia de gravidez. Essa fantasia, Lacan coloca que é comum nas histéricas em função de sua identificação viril.

A questão da transferência que Freud disse não ser possível de teorizar neste caso, é entendida por Lacan como a contratransferência. A contratranferência definida como a soma Dos preconceitos, paixões. O próprio Freud não entende que Dora pode ter transferido para ele o personagem paterno. Lacan afirma que interpretar a transferência é preencher com um engodo o vazio. Ao invés de ser uma questão Dora denegar a observação de Freud sobre as intenções dela com o Sr k, poderia ter sido uma questão mais favorável, conduzi-la ao objeto de seu interesse real- sra k..

Para Lacan, a transferência tem sempre o mesmo sentido. O de indicar momentos de errância por parte do analista, para orientá-lo, para colocá-lo em seu lugar, de não agir positivo.



 
 
 










Intervenção sobre a transferência

Escritos- 1951

Intervenção sobre a transferência.

Na experiência psicanalítica, o sujeito se constitui por um discurso que pode ser produzido pela simples presença do analista. Lacan coloca que “a psicanálise é uma experiência dialética, e essa noção deve prevalecer quando se formula a questão da natureza da transferência”p215.

O autor afirma que existe um temor por parte dos analistas em relação á verdade do que os pacientes falam sobre suas doenças. “Se Freud assumiu a responsabilidade...de nos mostrar que existem doenças que falam, e de nos fazer ouvir a verdade do que elas dizem, parece que essa verdade...inspira um temor crescente nos praticantes que perpetuam sua técnica” p.216.

O caso Dora, foi o primeiro caso em que Freud reconheceu o papel do analista.

Lacan, neste texto, fundamentará sua demonstração do caso Dora  por ele ser representante na experiência da transferência e ser o primeiro em que Freud reconheceu que o analista tem seu papel.

O caso Dora é exposto por Freud sob a forma de uma série de inversões dialéticas.
É a primeira vez que Freud usa o termo transferência.
"É por aí que tentaremos definir em termos de pura dialética a transferência chamada negativa no sujeito, como sendo uma operação do analista que a interpreta.”p.217.
Lacan coloca que Dora se torna um objeto de uma troca odiosa. Devida a relação de seu pai com a sra k, ela é oferecida ao Sr k. Seu pai, não percebe.
1)Primeiro desenvolvimento da verdade: Dora entrega-se á Freud, falando de suas lembranças com um rigor que contrasta com sua imprecisão biográfica que é própria da neurose.

1a) Primeira inversão dialética:
  
Freud diz á Dora: “Qual é sua própria parte na desordem de que você se queixa?” Então, aparece o segundo desenvolvimento da verdade.



2) Segundo desenvolvimento da verdade: Dora foi cúmplice e protetora vigilante para manter a relação dos amantes. Com seu silêncio, protegeu. Dora participou desta “corte”. Ela é objeto por parte do srk. “...a relação edipiana revela-se constituída em Dora por uma identificação com o pai, favorecida pela impotência sexual deste, aliás vivenciada por Dora como idêntica á preponderância de sua situação de fortuna”218-219.

“Essa identificação transparece, com efeito, em todos os sintomas conversivos apresentados por Dora, e sua descoberta dá início á eliminação de um grande número deles.”219.

Dora então de repente manifesta o ciúme da relação amorosa do pai. Que significa eliminar alguns sintoma e manifestar subitamente o ciúmes? O que tem haver?

2a) Segunda inversão dialética: Freud observa que não é o ciúme do objeto que prepondera, mas sim, que ele esconde um interesse pela pessoa do sujeito rival. Interesse esse, que se exprime de forma invertida. Daí, surge um terceiro desenvolvimento da verdade.



3) Terceiro desenvolvimento da verdade: O fascinado apego de Dora pela sra k. Pela sua maravilhosa brancura corporal, as confidências que ela ouve sobre a relação da sra k com o marido, trocas de amabilidades entre as duas, “como embaixatrizes mútuas de seus desejos junto ao pai de Dora.”p 219.

A pergunta então, é: Dora, se você se sente despossuída perante a sra k, como não lhe quer mal? Porque é tão leal á ela? Guarda o segredo. Com este segredo, vamos á terceira inversão dialética.

3a) Terceira inversão dialética: O valor de Sra k para Dora, o real valor deste objeto. O valor de um mistério, do mistério de sua feminilidade corporal. No segundo sonho esse mistério se evidencia. A imagem mais distante de sua infância que Dora alcança. A imagem dela chupando o dedo com o polegar esquerdo e com a mão direita puxando a orelha do irmão.

Lacan coloca que parece que esta, parece ser a matriz imaginária em que vieram desaguar todas as situações que Dora desenvolveu em sua vida. O autor continua dizendo que essa cena é uma ilustração da teoria que ainda surgiria em Freud dos automatismos de repetição. E que por essa cena, podemos tirar a medida do que siginificava para Dora mulher e homem.

“A mulher é o objeto impossível de separar de um desejo oral primitivo, e no qual é preciso, no entanto, que ela aprenda e reconhecer sua própria natureza genital. (é espantoso, aqui, que Freud não veja que a determinação da afonia, durante as ausências do Sr k, exprime o violento apelo da pulsão erótica oral no “enfim sós” com a sra k.”220.

Lacan postula que para ter o acesso do reconhecimento da feminilidade, seria preciso Dora a “assunção” de seu próprio corpo para que não fique despedaçada e constitua sintomas de conversão. Despedaçada no sentido do estádio do espelho.

Para se ter acesso ao corpo o único intermediário que ela teve foi a imagem original. Esta imagem original nos mostra que ela teve uma abertura para o objeto. Isto significa que o irmão (parceiro masculino) foi quem “permitiu” que Dora pudesse se alienar na alienação primordial. Esta alienação primordial é aquela em que o sujeito se reconhece como eu. Foi a diferença etária que permitiu isso.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Torções entre a clínica, a dança e a psicanálise.

A dança da vida, da clínica.
Entre as questões que a psicanálise se ocupa, no que se refere à dança, destacarei o fenômeno físico do dançar para articulá-lo com alguns aspectos da clínica e da teoria psicanalítica. Em psicanálise lacaniana, teoria e prática não se separam. Aliás, a teoria só recebe algum sentido se estiver diretamente articulada com a prática.
No fenômeno físico do dançar, poderíamos dizer que a dança, neste sentido é uma sequência de movimentos coreografados ou não em um determinado espaço. No eixo ou fora dele. Dançar, necessariamente envolve algum tipo de movimento. Como um corpo se move? Ou melhor, o que move um corpo? O desejo? A angústia? O gozo?
Como este corpo se relaciona com o espaço? Aqui, entram as questões da imagem. Em termos de constituição psíquica, incialmente nos identificamos com o outro. Para nos constituirmos, necessariamente dependemos do outro. Essa relação é o que denuncia como se dá o imaginário para cada sujeito. Na loucura, o sujeito que dança encontra-se em todos os lugares. Ele é tudo. Não há uma separação entre o que é um palco e o sujeito. O que é uma parede e esse sujeito. Tampouco, não há a noção de eu e do outro.
O sujeito que enlouqueceu, sofre de problemas com o eu. A dança, pode ajudar um sujeito a tratar seu eu, sua imagem despedaçada, seu corpo desintegrado. Ela forneceria o que Jacques Lacan, psicanalista francês, chamou de nome do pai. O sujeito louco, sofre da falta deste conceito. Falta de uma medida fálica. 
Ou seja, quando uma mãe tem um filho, este, vem obturar sua falta. É como se nada lhe faltasse nessa hora e ela teria a ilusão de completude. O filho capta o seu lugar no mundo. “Sou aquele que completa minha mãe”; “Sou tudo para ela”; “Sou um mero objeto, impedido de desejar. Só poderei desejar se perceber que algo falta no outro mãe.”
O desejo, nasce da falta. Logo, se uma mulher que se torna mãe desejar algo além do filho, o filho terá sua função paterna ou o nome do pai dentro de si. “Uma mãe só é suficientemente boa se não o for em demasia”.
Coloco que dança é como se fosse uma mãe boa. Aquela que nos propicia desejar. E ela nos dá amor. “Amar, é dar o que não se tem”. Amar é dar sua falta. Mais do que ser “completa”, a incompletude é o que nos move. Metaforicamente, a incompletude pode nos fazer dançar, desejar.
Na dança, ocorre também a questão da satisfação escópica. A mesma linha de raciocínio. Se somos incompletos, dançar pode nos satisfazer em sermos olhados, de determinada maneira, por determinadas pessoas. Como uma criança que quer ser vista e diz: “olha mãe, pai o que eu sei fazer!”.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Como funciona uma análise?

 A psicanálise é uma outra possibilidade de olhar o ser humano.
Um homem, uma mulher, são seres que podem ser vistos e pensados sob vários prismas: orgânico, psicológico, espiritual, antropológico, social, psicanalítico... 
Como a psicanálise trata, ajuda, cura e entende o sujeito? É importante destacar que a vivência de uma análise é algo singular, ou seja, cada sujeito experimenta e encontra uma parte de si “desconhecida”. Nesse sentido, não há como definir o que é uma análise e sim o que a psicanálise privilegia, cavoca, trata e nos transmite. podemos falar do que é a psicanálise.

1)Tratamento: O poder da fala

O tratamento psicanalítico se dá pela via da fala. Durante a sessão, o analista pede que o analisante fale o que lhe vier a cabeça, sem se preocupar com julgamentos morais. Para que isso ocorra, é preciso que o analisante coloque o analista em um lugar privilegiado, de alguém que tem um certo saber. Assim como quando se vai a um médico, tarólogo, pai de santo, padre, rabino, xamã. A idéia inicial é que o outro sabe.  Lacan denominou o saber do analista como: "Sujeito suposto saber".
Desde já, no entanto, destaco que o analista não sabe. Quando Lacan propôs a fundação de uma escola de psicanálise afirmou: "O não sabido ordena-se como quadro de saber". Assim como o analista foi um analisante, e pode saber algo, a idéia é que o saber está no próprio analisante. Uma posição humilde, pois, de fato, não sabemos do outro, não tiramos sofrimento de ninguém. Apenas ajudamos. Mas como? Como a psicanálise ajuda então?

2) Ajudar: O poder da escuta

Como o analista sabe que não sabe do outro, desde o início de um tratamento ele se coloca como alguém que pode ajudar, mas não no sentido de ajuda que conhecemos. A ajuda se dá pela via da escuta. Em sua escuta flutuante, o analista (que deve ter ou estar em análise) tem um saber inconsciente. Um saber de si que é essencial para ajudar o outro. Através de intervenções, silêncios e perguntas, ele ajuda o analisante a falar mais e mais até que o que é realmente importante é dito. Esse importante, não é o que importa ao analista, mas sim, ao sujeito que diz.
Cada um precisa e demanda um tempo para falar o que importa e com quem escolheu. Cada um tem um tempo de construção da sua questão. Ou seja, o analisante busca aliviar um sofrimento que julga não saber. Pede um saber ao analista. Demanda algo ao analista.  Á medida que fala, percebe que a questão que o trouxe é outra. Pode até ser a mesma, mas vai se dar conta de que o analista se não sabe, pelo menos, não responde.Neste momento, podemos pensar no conceito de cura que se liga à fala justa.

3)Cura: O poder do amor

O analista não é um médico que dá alta. Não é um psicólogo que avalia, não é um curandeiro que tira a dor do outro. Para a psicanálise, a cura vem do próprio sujeito que busca um tratamento. Ele se cura principalmente pela fala, pelo amor e pela responsabilidade de seu desejo. (Tema que será abordado adiante). Mas, que amor é esse? Jacques Lacan, psicanalista francês, coloca: “Amar, é dar o que não se tem”. Ou seja, amar, é dar a falta. Começamos a entrar no terreno de como a psicanálise Presupõe o ser humano.

4)O ser humano do ponto de vista psicanalítico: O poder do outro

Somos seres desamparados desde o nascimento. Pelo fato de dependermos de outra pessoa  para nos alimentar, dar amor, palavras, olhares desde que nascemos, apresentamos um estado faltoso. dependemos do outro.Precisamos do outro para nos... A questão é que nem todos receberam palavras, cuidados e foram olhados e amados como necessitavam. Aqui, começam alguns sofrimentos.

Dando um salto, de uma forma geral, a psicanálise entende que o ser humano é um ser de fala, linguagem, que é marcado desde antes do seu nascimento por palavras dos pais que já indicam a posição da pessoa no mundo. Por exemplo, na melhor da hipóteses, a mãe diz que terá um filho forte, que será médico, advogado, será alguém importante....

O sujeito já nasce neste cenário preparado pelos pais e se posicionará na vida sendo médico,  ou fazendo questão de não ser, mas em relação ao lugar que os pais o colocam.

Este ser que já nasce com um lugar marcado (mesmo que seja o da exclusão, por pais que não desejavam) é um ser de falta. Se algo nos falta, temos desejo. Ou seja, só desejamos porque a falta existe e ela é para todos. A psicanálise provoca e convida  o sujeito a falar de sua falta e consequentemente de seu desejo, pois, a idéia é que, o modo como nos relacionamos com nosso desejo, diz muito das nossas possibilidades de vida e de sofrimento.
Vejamos exemplos destas possibilidades:
-As depressões, podem ser uma saída covarde perante o desejo.
-O pânico/angústia pode encobrir a fixidez de cenas traumáticas ou desvelar a desproteção do desamparo fundamental ou....
-A angústia pode paralisar o sujeito, deixá-lo ansioso, perdido, irresponsável por seu desejo. Pode também fazer o sujeito produzir e avançar em sua análise.
-Uma mãe colada em seu filho, pode desencadear uma crise existencial ou surtos na medida em que o filho se separa dela e vai para o mundo. Nesse sentido, a criança tamponava seu desejo. Como ilusóriamente não havia falta (já que filho e mãe se completavam), não havia desejo.
Exemplo de sofrimentos e sintomas não faltam, porém, cada um sabe bem aonde o calo aperta.
Nem todos precisam de uma análise. Somente aqueles que sofrem, se angustiam, deliram, surtam. Mesmo que não tenham questões, uma análise pode servir para a construção de uma.

 

terça-feira, 31 de maio de 2011

"O não sabido ordena-se como quadro de saber"

Na proposição de 9 de outubro, destaca-se esta frase.
 Lacan se ocupando de fundar, "tão só" uma escola, propõe suas bases no não saber. Ele diz que é disso que se trata.
Porque não uma sociedade e sim, uma escola?
Pela via do saber. Ou melhor, do não saber. O analista no lugar transferencial de um sujeito suposto saber. Porém, o que o analista sabe, ou deve saber, é que ele não sabe. Como ele se relaciona com saber?
Além da análise, supervisão, uma escola. Locus do saber transmitido. Porém, há um impossível na transmissão.
Porque será que neste texto, Lacan joga a frase sobre o que é recusado no simbólico, retorna no real?
A sociedade, se organizando de maneira vertical induz a identificação com um líder. Um mestre do saber.
A construção acerca da fomação do analista que proponho é a seguinte:
Se em uma escola, trata-se da relação do analista com o não saber, a organização não será vertical. Ela se dará pela via da transferência de trabalho e na responsabilidade de cada um pela sua formação. Nesse sentido, o real não é excluído. O real presentificado em um final de análise cinde o sujeito invadindo-o e destituindo-o de seu ser a tal ponto que o analista se identifica com a falta a ser. Experimenta na carne, na linguagem, na imagem, um des-ser.
Em uma escola, ocorrem identificações e não a identificação.
Por esta via, o que concluo é que assim como a habitação da linguagem do lado feminino implica em uma singularidade, o analista contorna seu vazio com suas produções escritas. Concluo também que o nada que Lacan neste texto da proposição cita, é a falta de um significante que represente o analista. Assim com a mulher não existe, o analista, idem.
Em uma sociedade de médicos, temos médicos que podem ser definidos com determinados conceitos. E o analista? Como definí-lo?
Há um impossível. Não há conceito do que é um analista.
O que há é um vazio, um não saber. Não saber do desejo, saber que o outro não sabe e saber que não se sabe do outro.
Isso, faz toda a diferença na clínica...

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Fim de análise: Desejo de passagem?

Lacan propunha a possibilidade do fim de uma análise. O fim, se daria quando ocorresse o desejo do analisante se tornar analista. O sujeito procuraria ativamente a se submeter ao passe lacanianao.
Ocorre a identificação à uma falta a ser, uma destituição subjetiva.
A questão colocada é que nem todos os analistas se colocam para tal.
Então, finalizando abruptamente, "o analista só se autoriza por si mesmo"(Lacan, J. Outros escritos).

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O analista autoriza seu não saber?

Pela via do não todo que ele se autoriza de si mesmo.


Por isso, é para nem todos que a função se presentifica.

Nem todos suportam o limite do inconsciente. Os que suportam, podem em determinados momentos não suportar.

E como é difícil!

O analista se autoriza a si mesmo

Que quer dizer isso?
Sabemos que não há garantias.
Sabemos que não há títulos que garantem uma boa escuta e direção do tratamento.
Sabemos que nem todos são, foram ou pretendem ser analisados.
Sabemos que nem todos fazem a necessária supervisão.
Sabemos que nem todos são não todos.

Então?
Que lugar é esse que se sustenta ou não na clínica?

Em que o sujeito, semblant de objeto se autoriza?

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O que dizer do massacre no Rio de Janeiro?

Justamente por não ter palavras, escrevo. Não há comentário possível de elaboração para tal fato.

O episódio nos coloca em situação de desamparo. Somos objeto do gozo do outro.

Lamentável, triste, desesperador, violento, louco, totalmente imprevisto, mais e mais e mais.

Aonde estamos? Que mundo é esse?
Neste mundo, o louco não tem lugar.
É preciso olhar justamente aquela criança que não "dá trabalho". O Brasil é um país atrasado em termos de investimento nos profissionais da psicologia. As escolas não contam com psicólogos.
Eles, os psi, não evitam nada. Porém, identificam que o sujeito precisa de tratamento.

É o que posso falar.
De resto, luto geral.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Palavra de Bolsonaro- "Todos nós somos iguais perante a lei".

Nem todos homem, nem todos. O pai da horda primitiva, aquele que gozava de todas as mulheres e fundava o clã de filhos castrados, esse não. Perante a lei, ele era uma exceção. O único que escapava á castração. O bom é que a lei só existe em função do corte de gozo.
Como este sujeito se posiciona perante à lei? Como lida com a castração? Como entende o desejo? Como se relaciona com a diferença?
A resposta é simples. Em sua lógica, devemos fundar uma raça ariana. Assim como Hitler, torturava, matava, oprimia os judeus, Bolsonaro segue o exemplo dizendo implicitamente que devemos torturar negros, gays e na linha de seu raciocínio qualquer um que pense diferente. Ainda estamos na época da ditadura. O povo ainda elege esse pai que goza.
A problemática que se impõe é que ele expressa claramente o que muitos pensam mas se calam pois não é socialmente aceito. Qual a responsabilidade que o eleitor tem de fazer essa escolha? O que leva a um sujeito do século XXI a votar neste homem que remete  a Furer? Tem algo de atemporal nisso não acham? Algo que está para além do tempo histórico em que vivemos.
Coloco-o como um homem mitológico. Neste sentido, atemporal. Ele não sabe que período está. É o pai da horda primitiva do Totem e Tabu. Ele está acima de todos e todas. Ele é a lei. Neste sentido, muitos se colocam como sendo a lei. Julgando os outros, vivendo fechadinhos em seus pontos de vista, procurando os iguais.
Porque nos custa tanto conviver com o diferente?
A resposta, talvez aponte para a castração. O sujeito contemporâneo tem uma grande dificuldade de lidar com a lei. Todos querem ser o únicos que escapam `a ela, à tão temível CASTRAÇÃO.
Dói escolher, perder. Dá trabalho conviver com o diferente.
Porém, a vida de enriquece. Quando se tem um limite, tem-se um alívio. Não podemos ir até aqui, mas podemos ir para outro lado.
Bolsonaro é um alienado de Hitler. Um alienado do pai da horda. Não sabe dos limites justamente por ser engolido. Um ser com semblant de psicótico que escapa á castração. Ele parece não saber dela.
Mas, será que não sabe mesmo?
Seria um perverso que dissimula. Sabe, mas finge que não sabe?
Para além das elocubrações psicanalíticas, quais os efeitos de sua fala no programa CQC? Como o telespectador escutou? O que o outro lado tem a dizer?
Como avançar neste nó que a fala de um homem causou? O que fazer com isso?

sábado, 2 de abril de 2011

Geração 2.0

Uma mulher, uma escritora inglesa. Ela escreveu um artigo riquíssimo na revista Piauí de fevereiro de 2011, para marcar sua posição e problematizar a questão internética. A autora, diz e nomeia sua matéria: "Quero ficar na geração 1.0".
Dentre as brilhantes construções, críticas e questões que coloca, destaco uma. Ela escreve: "...quando uma adolescente é assassinada, pelo menos na Inglaterra, seu mural do facebook muitas vezes se cobre de mensagens que parecem não se ter dado conta da gravidade do que ocorreu. "
A menina assassinada, presupõe-se que está morta certo? Pois bem, no mural da página de seu facebook existiam frases do tipo: "Que peeeeena querida! Ai que saudade! Agora vc tá com os anjinhos do céu! Lembrei que adorava muuuuito as suas piadas rsrsrs! PAZ! Bjs".
Pasmem!!!!!!!!!!
A autora, ficou assustada com alguns fatos. Ela se pergunta como é possível o mural da menina ainda estar no ar já que faleceu e também se as jovens amigas ainda acreditam que a menina está viva.
Porém, responde: "E que diferença faz se, no fim das contas, todo o contato com ela sempre foi virtual?".
 O que significa essa forma de contato? É uma forma,mas, seria esta, uma relação?
Sem moralismos com questões da máquina, o mundo virtual está para além dos computadores.Porém, ali, em um "lugar" invisível, nega-se a tragicidade e a violência de uma situação absurda. No virtual, ignora-se perversamente o limite último do homem. A morte.
Lá, não há luto que possa significar e resignificar a perda. Aliás, algo que não apareçe no mundo virtual é a falta.
Mas, há algo de bom em encontrar antigas amizades e se sentir incluído no que supostamente se denomina social. O problema é que a menina morre e é como se não tivesse morrido. Isso a exclui. A ilusão está em supor que se está incluso.
O sujeito virtual, está excluído de si mesmo.
Ele se aliena ao outro e isso aparece na forclusão da morte de um amigo. Ele é o outro, ele é todos os outros. Aos cacos, ao corpo fragmentado que o sujeito se dá para se cindido, ele se aliena.
No virtual, não há possibilidade de separação. Não há perda.
Há palavras que buscam a complementariedade para dar conta do nosso vazio estrutural....

terça-feira, 29 de março de 2011

Quando se busca uma análise?

Via de regra, quando nos encontramos angustiados, em sofrimento, fazemos algo. Alguns comem demais, alguns choram, alguns trabalham excessivamente, alguns dançam, cantam, reclamam de tudo, se isolam, buscam amigos para falar... Cada sujeito tem uma saída frente à dor. Outros, buscam cartomantes, psicólogos, igrejas, xamãs, yoga, shiatsu, remédios...
Cada área do saber olha o ser humano sob um prisma. O médico, vê o corpo físico, a questão orgânica. Trata medicando ou dizendo que não é necessária a medicação.
O psicólogo, avalia o grau de ajustamento do ser ao social. O tratamento se dá por um "concerto" emocional.
O psicanalista, trata pela via da fala. Desde o início do tratamento, propõe que há uma dimensão de não saber na estrutura psíquica de todos os seres humanos. Isso, significa que além de sermos seres faltantes, incompletos, que jamais saberemos tudo. Esse princípio socratiniano do "só sei que nada sei" tráz à luz o INCONSCIENTE. ELE, existe e se manifesta pela via dos sonhos, atos falhos, chistes, silêncios...
Quando o ser não sabe porque disse tal coisas, quando tem atitudes que não entende, quando sente um mal-estar que não identifica da onde vem, aí, encontramos algo que vai além da razão. Um não saber. Algo da ordem inconsciente.
A psicanálise, como uma das muitas áreas do saber, pode oferecer um olhar e uma escuta do sujeito que sofre sabendo que não se sabe do outro. Isto é um diferencial das outras áreas na medida em que na medicina e na psicologia o outro sabe. O médico, se coloca como aquele que sabe do corpo. O psicólogo aquele que sabe da emoção, razão, da adequação.
O analista sabe até onde foi sua própria análise. É neste ponto que ele poderá saber até onde pode ajudar o analisante. É de um saber inconsciente que se trata.
Cada sujeito é singular, tem uma história de vida e responde ao lugar que foi colocado no mundo de uma forma. Acontece que ás vezes a saída que se encontrou não está mais satisfatória. Aparece um sofrimento.
O analista vai tratar propondo que o analisante fale de seu mal estar. Vai intervir e fazer o paciente trabalhar e desejar saber sobre seu inconsciente, sobre o que manca em sua vida, sobre suas faltas.
E o desfecho, é particular de cada um. Se a falta existe, ele deseja...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Ainda sobre o cisne negro...a bailarina- louca?

Menos perturbada, acrescento um ponto que se destaca na minha pretensão de analisar o filme. O SUPEREGO tirano. Fica evidente a rigidez deste. Quando isso ocorre, não sobram mesmo muitas saídas para o sujeito. Acontece, que, ao mesmo tempo que o superego exige, ordena, ele é o que possibilita o sujeito gozar. Nese sentido, aonde tem excesso de gozo, tem desejo de menos.
O gozo da pressão, da idéia de alcançar uma perfeição. Um mundo sem falhas. Ufa! Que terror. Um mundo perfeito, se é que pode ser viável, não deixa o sujeito desejar. Tudo bem que ela queria o papel principal. É que o desejo, não me parece que seja da ordem do querer. Como ela poderia desejar se uma das condições de desejar é estar separado do outro?
A personagem, estava alienada no desejo materno. Qual seria seu desejo caso não estivesse alienada?
O ballet, se coloca aqui, como sua estrutura de transmissão psiquíca entre gerações: a mãe frustrada, a filha falo. Essa relação, encerra-se em um circuito imagináriamente dual, carente de significantes.
Alucinações provenientes desta forma de relação especular. Como se uma possível tradução fosse: Minha filha é o que eu desejo. A filha, pode até ser o que a mãe deseja, mas, nunca sem consequências.
Ela poderia fazer uma análise para após algum trabalho psíquico, se colocar neste lugar (de ser o falo da mãe), mas responsável por isso. Sabendo disto.
No caso, apareceu sua loucura, que nos deixa uma questão. O louco, precisaria passar por sua própria loucura para se curar? No caso da personagem, viver essa loucura,foi a morte. Tentando dar conta desta mãe, ela enlouquece.
Mas era louca de fato? Como se articula o superego na psicose? E as auto-flagelações? Masoquismo feminino? Punição do superego por atacar a mãe inconscientemente? Porque em suas alucinações não matou a mãe? Em nome do amor? O amor que leva a morte? Amor cortês?

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Cisne negro, o filme

Porquê negro? Tradicionalmente, no ballet, este clássico, é conhecido como "O lago dos cisnes". O filme que estreiou e está pipocando nas salas de cinema, concorrendo ao Oscar se chama: Cisne negro. Novamente, porque negro?
Me parece que estamos no campo dos anjos e demônios, mocinhos e bandidos, ou seja, no campo infantil. Infantil no sentido de dividirmos o mundo entre bom e mau, as pessoas entre fortes e fracas, vítimas e algozes. A criança, via de regra, não concebe o cuidador como alguém com falhas, que pode ter um lado bom mas outro nem tanto.
No filme, tenta-se uma espécie de unificação entre o lado angelical e o lado obscuro de uma mulher. Quando a mesma personagem dança em dois lugares (do fraco e do forte), ela se cinde. Não há espaço para uma dialética.
 Ela tenta, mas a única e radical saída que encontra é a morte.
A bailarina que perdeu o papel principal na companhia de dança, se mata. A bailarina que ganhou o papel principal, também se mata.
A personagem de Natalie Portman, tem uma mãe bruxa, maligna. Uma mãe que não realizou o desejo de ser bailarina ou que realizou e não foi o suficiente. O ballet, parece ser um tipo de dança na qual as transmissões psíquicas entre mãe e filha ocorrem.
O filme trouxe a tona o dark continente. A mulher e o que ela não diz. Como pode uma menina se tornar mulher sem confrontar e encarar sua relação com a mãe? Como o ballet tras a tona esse vínculo tão especial e muitas vezes mortífero.
A mulher e sua falta. Quando se torna mãe, vive na ilusão de ser preenchida por um bebê falo. A personagem era o falo da mãe. Neste lugar, o desfecho foi uma série de sintomas como auto-flagelação, vômitos e alucinações com caráter paranóico.
Como podemos analisar o filme? Do ponto de vista da transmissão psíquica no ballet? Sob o olhar do feminino?
E a perfeição que o ballet tanto almeja? No final, ela diz: "agora está perfeito". Quando morre está perfeito? Instinto de auto-destruição que o ballet invoca?
E o gozo? Que gozo é esse? Que lugar no mundo cada personagem se encontra? Como ser um cisne negro que é aquele que causa o desejo do outro? Como causar?
Longe de fechar questão, o filme abre para outras tantas, mas, deixa sua marca: A PERTURBAÇÃO.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Popular- "ser ou não ser".

Tema atual e insistente entre jovens e crianças. Todos querem ser popular. O que significa isso? O que entendem por popularidade? Quem é? Quem não é? Quais as consequências de ser ou não ser?
Seria diferente colocar a questão como ter popularidade ou não ter? Me parece que a questão imposta no que diz respeito a popular, se refere a questão do ser. Ontologicamente. Quase como qual é o seu signo? Qual é o seu gênero sexual?
O ser humano se reduz ao ser. O ser, marca algo de imutável. Quando falamos sou assim, sou sou, sou, sou, não abrimos outras possibilidades de sair de uma lógica dualista, sem dialéticas.
Quando pensamos em popular, pensamos: do povo. Pensamos em um caráter que marca uma pessoa. Uma pessoa simpática, que tem muitos amigos, que é conhecida por todos.
Que será isso que se impõe nos contextos escolares que os alunos agarram com unhas e dentes? Que tradução possível para este fenômeno?
Será que se trata de uma forma de defesa da exclusão, do não laço social? Uma resposta radical para tentar dar conta de um saber que não sabe? Um signo do feminino? A garota popular.
A garota popular é de todos? Um lugar objetal? A menina se coloca ativamente neste lugar?
Seria então uma fantasia na qual a menina mulher supõe ao menino? Seria ela desejada pelo fato de ser popular?
Triste então das que não forem...
Então, surge a questão: O que fazer para ser? É tão simples a resposta. Basta deixar de ser o que, de fato, se é. Basta perder a identidade que ainda se esconde. Em nome de quê? Não sabemos.
Este tema, merece ser aprofundado já que nos parece tão "raso", "ridículo", "menos importante". Afinal, é o que se aprende na escola.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Dieta Mediterrânea- o que nos alimenta?

O filme tenta dar ares de Almodovár, os atores deixam a desejar.
 Porém, toca o sujeito. A fantasia feminina alimenta o telespectador. Homens e mulheres terão opiniões e sensações contraditórias.
O filme dá fome. Fome de...
Cada um tem a sua.
Vale a pena refletir - Temos fome de quê?
Ou, traduzindo, o que nos causa? O que nos faz desejar?
Que oralidade é essa que os humanos têem? Ninguém pode perder?
Como seria ter tudo? Ou melhor, a ilusão de ter tudo?