terça-feira, 31 de maio de 2011

"O não sabido ordena-se como quadro de saber"

Na proposição de 9 de outubro, destaca-se esta frase.
 Lacan se ocupando de fundar, "tão só" uma escola, propõe suas bases no não saber. Ele diz que é disso que se trata.
Porque não uma sociedade e sim, uma escola?
Pela via do saber. Ou melhor, do não saber. O analista no lugar transferencial de um sujeito suposto saber. Porém, o que o analista sabe, ou deve saber, é que ele não sabe. Como ele se relaciona com saber?
Além da análise, supervisão, uma escola. Locus do saber transmitido. Porém, há um impossível na transmissão.
Porque será que neste texto, Lacan joga a frase sobre o que é recusado no simbólico, retorna no real?
A sociedade, se organizando de maneira vertical induz a identificação com um líder. Um mestre do saber.
A construção acerca da fomação do analista que proponho é a seguinte:
Se em uma escola, trata-se da relação do analista com o não saber, a organização não será vertical. Ela se dará pela via da transferência de trabalho e na responsabilidade de cada um pela sua formação. Nesse sentido, o real não é excluído. O real presentificado em um final de análise cinde o sujeito invadindo-o e destituindo-o de seu ser a tal ponto que o analista se identifica com a falta a ser. Experimenta na carne, na linguagem, na imagem, um des-ser.
Em uma escola, ocorrem identificações e não a identificação.
Por esta via, o que concluo é que assim como a habitação da linguagem do lado feminino implica em uma singularidade, o analista contorna seu vazio com suas produções escritas. Concluo também que o nada que Lacan neste texto da proposição cita, é a falta de um significante que represente o analista. Assim com a mulher não existe, o analista, idem.
Em uma sociedade de médicos, temos médicos que podem ser definidos com determinados conceitos. E o analista? Como definí-lo?
Há um impossível. Não há conceito do que é um analista.
O que há é um vazio, um não saber. Não saber do desejo, saber que o outro não sabe e saber que não se sabe do outro.
Isso, faz toda a diferença na clínica...

2 comentários:

  1. e como faz diferença na clínica! a formação é essencial, vai dizer da onde você fala, que concepção de sujeito voce tem , e como definir o analista em um instituição de médicos, onde só o saber tem lugar, onde sustentar o não saber é o mais difícil !

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  2. Pois é Camila,
    como se sustenta o não saber em uma sociedade de médicos?
    Ainda mais, casos em que realmente não sabemos, nem eles. Como propor uma construção de casos para eles?

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