quarta-feira, 17 de março de 2010

A eficácia da psicanálise na questão do luto

A perda de alguém muito importante, a mudança de país, aborto, perda de emprego, perda de amizades. O processo de luto envolve não só a perda de alguém querido e amado. Situações de separação sejam elas de que tipo forem, são situações de luto. Uma análise pode ajudar alguém neste estado. Como? Antes de responder como, chamo a atenção para a questão contemporânea da ordem médica que diz: temos remédio para tudo, a felicidade total é possível, somos somente um corpo biológico. Por isso, se deprimimos é porque os neurônios não estão fazendo sinopses adequadas.
O discurso médico nos fornece uma idéia de que o sofrimento humano pode ser tamponado com medicações. E o luto? Também.
O luto é um processo que ao meu ver deve ser vivido. Tem um início que se manifesta com uma certa revolta em que o iniciante enlutado nega a idéia da perda. Briga com o objeto ameaçado de morte. Após este período o próprio sujeito diz: quero o melhor para o objeto amado. Ele vai abrindo mão do seu desejo para olhar o outro até que conclui o que pensa ser melhor não para si e sim para o outro. A partir deste momento ele provavelmente vai vivenciar a perda real. Chora, se deprime, sofre.
Quem nunca fez uma análise pode saber que este momento é um dos melhores para iniciá-la. Quem já fez, sabe de algo do inconsciente. Quem está fazendo, trabalha psiquicamente.
Como então a análise pode ajudar o sujeito enlutado?
Propiciando primeiramente que ele signifique o que perdeu. No caso da perda de alguém, que lugar esta pessoa tinha para ele? São perguntas que muitas vezes demoram a ser respondidas pela pessoa em análise. Por fim, chorar pelo que perdeu.
É importante pontuar o que perdeu para não ser tomado por uma idéia de que perdeu tudo. Discriminar o que exatamente perdeu é a chance do sujeito continuar apesar de sua dor. E continuar bem.