segunda-feira, 11 de junho de 2012

Circuito mãe-filha: falhas de simbolização e bipolaridade

Em um dia de adolescência, uma filha entendeu:  "Sou o braço direito de minha mãe. Sou aquela que vai evitar que algum mal aconte a ela". Muito tempo se passou. Essa filha teve dois filhos, se casou, se separou, perdeu a mãe. Perdeu o lugar de onipotência, de ser aquela que protegeria a mãe de algum mal. Que lugar lhe restou?
Então, ela construiu: "Sou um lixo, um nada. Me encontro na insatisfação".
Da alternância de ser tudo, passou ao ser nada.
Freud, observando seu neto brincando com um carretel em uma idade remota (8 meses) percebeu que o infan tentava elaborar na brincadeira o jogo dialético da presença e ausência do outro. Se minha mãe vai, sou um nada. Se volta, sou tudo para ela. A dialética está em poder simbolizar este jogo de presença e ausência.
Ser o braço da mãe, ser uma parte do corpo do outro diz respeito à onipotência, à ser o falo, objeto de desejo do outro. Diz respeito ao não desejar. Se a mãe morre, a filha morre junto já que era uma parte do corpo desta mãe. Não simbolizou, não incorporou a presença para que a ausência física não significasse um vazio existencial da ordem do insuportável.
Aonde ela é um nada, um lixo é um lugar no qual nada se perde já que tudo já está perdido. Em um jogo, algo se perde e algo se ganha. Para poder ganhar, há que poder perder.
Nossas histórias são marcadas pela nossa vivência do desamparo fundamental. Vivências de angústia nas quais se o outro vai, sou um nada e se volta sou tudo.
O que o outro quer de mim?
O que deseja o outro?
Perguntas que todos nos deparamos para um dia, quem sabe, indagar: "Que desejo?".