Para além do roteiro, a reflexão que proponho é sobre a sustentação de um semblante. O que a psicanálise pode oferecer a um sujeito que durante anos atua? No filme, longe de um tratamento convencional psicanalítico, ocorre o que poderíamos denominar de possibilidades de transmissão da psicanálise fora de um setting analítico e de um tratamento propriamente dito. Há algo de uma captação do sujeito que se aproxima de um saber analítico.
O
personagem de Michel Piccoli nos permite questionar como o ser humano é capaz
de sustentar um semblante por anos. O papa é nada mais nada menos que aquele
que se comunica com Deus. Para os sem questões, um semblante pode se manter e
consistir. Porém, o personagem nos revela sobre a impossibilidade de ocupar
esse lugar tão poderoso. A psicanálise entra no filme como um agente limitador
por um lado e libertador por outro. O limite alivia.
Com
dificuldades e dramas, o eleito a ser papa consegue falar. Falar justamente que
o semblant caiu. Ele expressa seu limite. Marca a diferença entre ser ator e atuar
na vida. A queda do semblant pode ser um dos efeitos de uma análise. Um sujeito
não sai ileso de um processo analítico. Ele pode até continuar com seu sintoma,
mas se responsabilizará como pode por ele.
A psicanálise
como área do saber, entra no filme, ou seja, na cultura e oferece algo ao
sujeito. A possibilidade de ser mais ético com o desejo. O sujeito que atua, pode
estar desprovido de saber de si. Pode não saber do seu próprio desejo. Ele
deixa de ser genuíno. A psicanálise toca o singular de cada um, o que cada um
tem de único! Não dá para sair ileso deste fato.