quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Tetro, o filme do sintoma.

Tetro ou tétrico é o filme. Enredo brilhante. Pontual na idéia da criança como sintoma da família, denunciando a verdade dos pais.
Questões sobre o que pode ser transmitido entre gerações aparecem de maneira clara.

O que pode ser transmitido? Mais especificamente quando uma família guarda um segredo. Algo velado que gera sintomas. Um homem que só pode se tornar pai a partir do momento da morte do pai.

O filme trata de questões psicanalíticas no âmbito dos sintomas infantis e no conceito de loucura proposto por Lacan. Além disso, Tetro, ilustra a falta da função paterna e a consequência automática da paralisação de um sujeito, da sua morte em vida. Um sujeito tétrico, tomado por uma angústia profunda, vendo a vida passar.

Coppolla é magnífico...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Provocação sobre o tratamento psiquiátrico

A provocação que coloco é a seguinte:
Como é possível tratar um paciente que adoece e que localiza o momento inicial de sua doença associado por exemplo com a perda de alguém significativo? Em entrevistas iniciais, perguntei ao paciente quando começaram seus sintomas. Seus sintomas eram: pressão alta, sensação de infarto, coração disparado, calor que queimava o corpo, sensação de morte ou como a psiquiatria chamaria: pânico).
Ele respondeu: "Quando perdi minha mãe. Eu vi suas mãos caídas no chão e depois o corpo. Nesta hora, tudo começou".
Como tratar então sua "doença"? Porque medicar-lhe se o que este paciente revela é um saber. Ele associa e localiza assertivamente o início de sua angústia. Ele diz claramente que a angústia se vincula ao momento da perda do ente querido. O que isso quer dizer? Que lugar o morto tinha para o paciente? O que foi que ele perdeu? Como era sua relação com ele?
Pedi então que o paciente falasse sobre o ente. Ele avança em seu saber inconsciente: "Eu senti culpa pois achava que se eu tivesse chegado antes, isto não teria ocorrido. Se eu impedisse que ele trabalhasse menos, ele não teria infarto". Intervi dizendo: "Infarto?".
Pois bem, a sensação de infarto que este paciente tinha em suas crises de pânico não traríam questões para quem trabalha com este paciente? Porque infarto?
A provocação que pretendo e desejo é que tratar o luto com medicações é uma forma justamente de não tratar. Está explícito que o paciente nos traz de "bandeja" que seus males estão diretamente ligados a algo que não sabemos muito bem o que, mas alguma coisa ligada ao parente e ao lugar que o paciente tinha também para o ente. Pois ele perdeu também este lugar.
Para finalizar a provocação, que não se encerra aqui, relato algo mais preciso que óbvio, veio da fala do paciente: "Quem eu perdi, falhou muito comigo. Mas, na hora que eu ficava doente, ele sempre estava lá. Era só ele que sabia o que eu tinha. Ele resolvia tudo e realmente cuidava de mim. E eu, quando me sinto mal, com aquele calor, aquela sensação de infarto, vou ao hospital e só me acalmo quando o médico diz que não tenho nada". "Eu até sei que não tenho nada, mas preciso que o médico me diga".
Não irei concluir justamente para deixar em aberto, mas, me parece que no hospital e adoecendo, é uma forma de não lidar com a dor de perder alguém e continuar apesar de...
Os sintomas aparecem para tamponar a falta do outro. Dando remédios, até podemos "remover" alguns sintomas. Porém, e o buraco? Como o paciente poderá se defender do buraco, da falta? Esta, não se "remove". A falta, demanda ser resignificada, elaborada. Como dizia Freud em "Recordar, repetir e elaborar", o que não é elaborado, se repete. Até que...

domingo, 5 de dezembro de 2010

O que os psicanalistas não dizem!

O que será?
O psicanalista enfatiza a questão do não dito, tenta ajudar o paciente a traduzir algo inconsciente, reflete sobre o feminino em psicanálise, coloca que o gozo feminino é de uma ordem do impossível de se dizer e o que ele faz com tudo isso?

O que o analista não diz? Ele se preocupa tanto com a direção do tratamento, com identificar qual foi a intervenção x que causou, com a escrita, com qual o lugar que o cliente o coloca, com, com, com...

Mas, e com o seu não dito? Se partirmos de uma lógica que coloca o lugar de um analista mais próximo do feminino, como cuidar daquele que se propõe a se colocar ativamente no lugar de resto, objeto, causa. Aquele que causa o desejo.

Aquele que é um nada, o que tem a dizer? O que os psicanalistas não dizem?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

E por falar em amor...

A dança me deu amor.
Me deu tudo o que precisava, necessitava e desejava na adolescência.
Me deu estrutura, preenchimento fálico...
Funcionou como uma medida fálica.

"AMAR É DAR O QUE NÃO SE TEM"
(J. Lacan sem XX).

Pela lógica da citação, amar é dar a falta. O que não temos, é o que nos falta.
Se afirmo que a dança me deu amor, ela me curou e me propiciou desejar. Só desejamos quando algo nos falta.
O que quer dizer a dança me deu amor? Ela funcionou como a Outra, uma alteridade. A função paterna do desejo da mãe.
Porque a dança?
Não sei.

O gozo da insatisfação

Um paciente com anos de análise, que apresentava como sofrimento principal o fato de se sentir insatisfeito, no início de uma sessão disse: "Eu me encontro na insatisfação". Que quer dizer isso? Poderia ser uma constatação do quanto se sente insatisfeito. Porém, há um jogo nas palavras e em sua análise: O sujeito se reconhece, se encontra no lugar da insatisfação. É neste lugar que ele se fundamenta.
Topológica problemática!
Porém, se pensarmos na fórmula da fantasia S barrado punção de a, o lugar da insatisfação é o do objeto. E como é difícil abrir mão do gozo deste lugar.
O paciente não quer perder nada, se coloca como um resto. Desta forma, não há nada a perder. A lógica é a seguinte: "Se sou tão ruim, vazio, insatisfeito, mal amado, desgraçado, fico confortável com meu sintoma já que abrir mão dele seria viver. Viver e poder saber aonde não caminho, saber dos meus limites e desejos. Aonde não vivo, não desejo. Aonde sou o pior de todos, nada me falta".
Acontece, que o tempo cronológico passa, a vida passa e há uma perda sim. É preciso tratar a insatisfação para que ainda tenha tempo de desejar, de amar.
A transferência com o analista, pode funcionar como uma cura. A cura pelo amor.
O AMOR, CURA.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Síndrome do pânico X Angústia

Tema atual nos consultórios, o pânico. Medo de ficar doente, medo de enlouquecer, medo de que algo ruim aconteça, medo de morrer, medo de sair na rua, de multidões, medo de perder o controle, medo de amar...

A idéia de um desamparo se vincula a um estado de "desproteção". A pessoa tomada pelo medo, tem algo a dizer e algo a ser traduzido. Para que a angústia não nos domine, seria necessária traduzí-la. Sendo traduzida, ela cessa.

Um futuro analisante que procura um psicanalista para não sofrer de pânico, pode encontrar um bom caminho para se tratar. Primeiramente, ele quer parar de sofrer por algo que lhe escapa, que foge ao controle. Ele encontrará um alívio quando falar do que está por trás destes medos ou como prefiro colocar, angústia.

A angústia, não engana. Aponta para o desconhecido. Pela fala, ela pode ser moldada e colocada em seu lugar. Como uma criança que tem medo de bicho de papão. A criança, precisa falar deste bicho, do que lhe assusta para dar um contorno e diminuir a força do que lhe assusta. Falando, ocorrerá um esvaziamento e aparecerá o que se trata.

A angústia, mascara algo da ordem de um saber inconsciente. Logo, o paciente quer parar de sentí-la. De fato, ele para. Porém, o que emergirá, não sabemos. Com certeza, não será algo que domine o sujeito, que o faça perder o controle. Porém, poderá se transformar em um saber que trará questões e muitas vezes, decisões que urgem serem tomadas. Ou seja, dá trabalho esvaziar um sintoma e lidar com o desconhecido que ele encobre.

domingo, 7 de novembro de 2010

ensaios sobre cartel

Primeiro tempo:
- Imagem na loucura; O corpo no espaço; Conceito de dança. Perdição.
Segundo tempo:
- O singular. A dança como preenchimento fálico. Dança do ventre X Dança africana. Masculino e feminino em psicanálise. Medida fálica.
Terceiro tempo:
- Feminino e loucura. A dança como objeto intermediário entre o feminino e a loucura. Como?

Antecipações:
A dança proporcionando uma certa medida fálica e nesse sentido podendo ser instrumento de sustentação do simbólico. O encontro com o real, porém vinculado com a medida fálica.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

MARIA RITA KHEL

"Maria, Maria é um dom é uma certa magia..."
Querida Maria Rita Khel,
temos a idade média, moderna, pós moderna ou contemporânea. Escolhi partir da média.
Nesta época, era muito comum caça ás bruxas, torturas corporais, eliminação do diferente....
Será que agora é diferente?
O véu caiu. O véu que encobre a falta mostrou a época que vivemos. Em pleno século XXI, somos obrigados, no Brasil, a sair de nossas casas (para quem ás possue) e votar. Em quem? Quem?
ESCREVAS O QUE QUERES E CASO HAJA UM DESENCONTRO, SERÀS PUNIDA E TORTURADA.
"Democracia", "Liberdade", por aqui, Brasil- São Paulo, são palavras meramente utilizadas para enfeitar o que o capitalismo prega.
Neste culto, a idéia é se deprimir, ficar fora do laço social caso pense diferente, não ter identidade.
O ESTADO DE SÃO PAULO, FAMOSO POR SUA VARIEDADE GASTRONOMICA, SUA COZINHA CONTEMPORANEA E FAMOSO POR ELEGER TIRIRICA, APRESENTA SERIOS PROBLEMAS DE POLUENTES.
Cara Maria, ou Rita, Ou Maria Rita- Excluida por poluir o estado de São Paulo, foi tratada como um lixo por pensar diferente e ter a coragem de se colocar. Quantos jornalista fazem isso ?
Virou um sintoma, aquele que denuncia a verdade do casal. É muito provavel que abra caminho para uma futura festa das bruxas... afinal,
quando se colocou neste deplorável veiculo de comunicação, soube a dor e a delicia de ser o que é.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Para residentes de psiquiatria

Como deve ser difícil para um residente de psiquiatria atender pacientes soma. A dificuldade localiza-se tanto em manejar a transferência como em poder questionar esses casos, característicos, de que a medicação não é tão importante. São pessoas que já passaram por várias especialidades médicas e por último, são enquadrados como pacientes com transtorno somatoformes.
O residente, quer aprender a medicar, dosagens corretas, discussões sobre medicações...
Que angústia então sair do script não é?
Uma pequena provocação para poder pelo menos vislumbrar um estado menos alienado dentro de uma área do saber.
Que questões poderíam surgir, caso pudessem se distanciar um pouco do saber médico e olhar para o fato de que a pessoa que converte, paralisa, entorta, finge, é uma pessoa em alto grau de sofrimento por necessitar de seus sintomas para viver e gozar.
É assim que estes sujeitos gozam e conseguem estar no mundo.
Como tratá-los então? O que um residente pode apreender com esses casos?

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Dançar

Ao obsevarmos aquele que dança, o que vemos? Um corpo que executa movimentos dentro de um determinado espaço, com determinada marcação de tempo. Se dança uma história, com movimentos leves, intensos, acrobacias, giros, isso é poesia.
Chamo a atenção para o fenômeno simplesmente de dançar.
Reflito que o corpo, condição principal de nos propiciar gozo, vida, se coloca em um espaço. No espaço, tem-se limite. Justamente por estarmos em um espaço, temos a condição de nos movimentarmos em nossos eixou ou ocupá-lo até a parede, o fim da sala, o término da praia, o tamanho do palco, da pista de dança...
Parece que na psicose, a parede até pode existir, mas o saber de que o corpo não é a parede, talvez não.
Estamos na área do conhecimento paranóico não é?
Seria somente na loucura essa indiferenciação entre o eu e o outro? o corpo e a parede?
A psicose seria uma "passagem" para a aquisição de uma perversão e depois uma neurose?
Respondo que a questão estrutural para mim, não faz avançar o atendimento que posso oferecer. Pelo contrário, ecoa algo do gênero: televisão, computador, máquinas dessubjetivadas.
Podemos dançar o clássico, repetindo movimentos até a perfeição, dançar o contemporâneo mecanicamente obstinados com a estrutura crânio sacral, ou, quem sabe, dançar dança do ventre executando sequências de movimentos sem intenção.
Porém, o corpo que dança, goza. Se goza, tem superego.

O erro do pai

O inventor da psicanálise eticamente, se questionou sobre o que não deu certo no caso Dora. A resposta que encontrou foi um erro sobre o objeto de desejo da analisante.
Isto é um fato. Diante deste, coloco que Freud de certa maneira atendeu a demanda do Sr K., seu conhecido e pessoa na qual ele nutria simpatia. Se interessou demais por imaginárias interpretações acerca do significado deste homem para Dora.
Afinal, o que Dora dizia? Em seus sonhos, sintomas, o que dizia?
Não seria o que se pode saber sobre a feminilidade? O que tem uma mulher para ser olhada e desejada por um homem?
O enrosco é que a outra, não sabe. Não tem a chave do mistério do feminino.
E aí? Como fica Dora? Como poderia ser tratada após o momento de constatação de que o outro, a outra não sabe?
Como se dá a articulação entre a histeria e o feminino?

quinta-feira, 17 de junho de 2010

O caso Dora

Este caso nos coloca a pergunta da histeria. A questão acerca do sexo, sobre o feminino. Seu segundo sonho nos revela o quanto Dora se perguntava sobre a caixa, não era nem sobre a jóis e sim, sobre a caixa. A sra K., era aquela que possuía a chave do mistério da feminilidade.
Assim como o caso Dora e outros tantos que se enquadram sobre o signo da histeria, nos trazem aquela insatisfação, Freud ficou suficientemente insatisfeito com o término precoce do tratamento de Dora.
O autor, se colocando no lugar do mestre, com seus saberes sobre o outro, não conseguiu escutar Dora, ouví-la de fato. Confundiu objeto de amor com objeto de identificação. A senhora K. além de ser o objeto de interesse de Dora, era um além. Um além da imagem.
Portanto, a genialidade de Freud se mostra neste caso nos seguintes pontos: ele nos propicia refletir sobre o feminino, trazendo o saber de que na histeria a pergunta que se trata é: sou homem ou sou mulher? O que é ser mulher?
Também, nos permite trabalhar a questão da transferência e da castração do analista. O analista vai, escuta, até onde seu limite lhe permitir.
Um outro ponto que Freud nos provoca é na questão da tendência homossexual que ele postula em Dora. O que a histeria quer com a outra? Dora visava o pai, seu amor por ele. Na medida em que um certo senhor k., no lugar daquele que equilibrava o quarteto diz á Dora: "Minha mulher não é nada para mim", Dora conclui: Não sou nada para meu pai. Se o senhor K ama somente a mim, meu pai ama somente a senhora K., aquela que para mim, representa o mistério do feminino. Logo, passo a reinvidicar o amor de meu pai com total exclusividade. Dora é homossexual?

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Mãe X mulher

Porque será que se confundem os papéis de mãe e mulher? Dizem: As mulheres são mães, trabalhadoras, esposas... tem muitos papéis.
Levanto a idéia de que mãe e mulher são posições diferentes. Freud, equiparou mãe e mulher. Com sua teoria, a menina se transforma em mulher quando abandona o desejo de ter um pênis em função do desejo de ter um filho. Ela toma o pai como seu objeto de maor e sua mãe se tornaria sua rival. O autor postula que neste momento a menina se tornaria mulher.
Coloco que a equação simbólica pênis-bebê, de fato, não torna a menina mulher. Ao contrário, a mulher se fixa em um ciclo fálico no qual o pênis equivale ao bebê e portanto, a mãe equivale á mulher.
A mulher, via de regra, sempre foi definida pela maternidade. Podemos pensar que a maternidade trás uma resposta para a questão da incerteza da identidade feminina.
O feminino, me parece, estar em outro lugar. Não se refere á lógica do ter ou não ter o falo, o bebê. É uma outra lógica que nos fornece a idéia do tornar-se. Um constante tornar-se que se desvia totalmente da anatomia.

domingo, 9 de maio de 2010

O absurdo do luto.

A partir da fala de uma pessoa que se encontra com a possibilidade de morte do pai, refleti sobre o absurdo do luto. Dentre várias palavras e um discurso, a pessoa disse: "Não há nada de bom em um luto".
Será que não? Essa pessoa se colocava como aquela que tudo organizava para uma família. Desde conflitos entre os familiares até bens materiais que lhe faltavam. Então, lhe disse que pode existir algo de bom neste luto.
Apreender que não sabemos da morte, da nossa, da do outro, pode ser interessante para contextualizar que a morte nos trás o mais radical do limite do ser humano. O não saber.
O absurdo do luto, pode ser colocado como a transmissão ética de que a falta existe. Não só existe, como também não tem como ser tamponada. Não há o que tape este buraco que a perda do outro nos causa.
O problema é que este buraco para alguns torna-se a pessoa toda. O buraco, é em algum lugar de si e não por inteiro.
E a vida, fica mais leve quando realmente sabemos que não sabemos.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Ainda sobre o diagnóstico estrutural...

Ainda sobre o diagnóstico estrutural, o que tenho para colocar é que:
1) Manejei a transferência de acordo com uma suposição de que o analisante estaria enquadrado em uma estrutura histérica. Foi uma catástrofe. Apontei a questão do desejo. Então, o sujeito começou a atuar e ficou 2 meses sem comparecer fisicamente à análise. Após alguns meses, percebi que o que se tratava não era simplesmente o desejo insatisfeito. Era o sujeito e sua alienação diria que total ao desejo do outro. A separação de um outro materno não estava nem estabelecida, nem vislumbrada.
2) Poderíamos pensar em uma psicose, mas o meu trabalho não foi nesta direção. Provoquei-o a falar do outro engolidor, abusivo. O sujeito foi se separando aos poucos de seu discurso e olhando seu lugar no mundo.
3) A conclusão que cheguei foi a seguinte: Enquanto me preocupei com o diagnóstico, perdi preciosidades do singular deste sujeito. De fato, não me dirigia na referência do analisante e sim a um modelo ortopédico e médico na posição de um saber que não diz, que não sabe.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Identidade feminina?

Será que já se perguntaram: sou homem ou sou mulher? Dois termos que definem através da linguagem uma "espécie" de identidade. Acontece que no discurso feminino algo escapa.
A mulher, apreende a feminilidade por uma máscara num constante tornar-se.
Essa máscara ou véu,revela um vazio. O que teria uma mulher para encobrir? Um corpo? Uma jóia? Uma fantasia? Um nada?
Sim, me parece que este nada que se refere a uma falta.A mulher se mascara para encobrir sua falta.
Suas jóias, maquiagens, lenços, roupas denotam a existência de uma falta de identidade feminina, de um não ao universal. A mulher quer ser única, particularizada, amada em seus maus humores, seus pijamas, suas rugas. Quer ser amada pelo seu singular.
Coloco que ela denuncia uma outra lógica. Uma lógica presa a linguagem mas além dela. Além de palavras e sentidos. A mulher trás o inominável, a dimensão socratiniana dos limites e verdades do inconsciente.
Sendo ela, não-toda submetida à lei, o sujeito feminino é um sujeito que se encontra dividido entre uma forma de estar no mundo ligada á linguagem, as regras e outra maneira que diz respeito ao que está fora do discurso. Algo escapa. Não há palavras que dêem conta de seu gozo.
Um sujeito que comporta uma lógica que não se refere ao ter ou não ter, tampouco ao ser ou não ser. Simplesmente outra.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Diagnóstico estrutural e a astrologia

Se você é do signo da histeria, você precisa do outro para dividir sua dor. O seu outro será impotente, não dará conta de suas angústias. Você tem uma relação com o desejo que diz respeito a mantê-lo insatisfeito, ou seja, não realizá-lo.
Caso tenha sido marcado por uma neurose obssesiva, você vive na dúvida, realiza vários rituais, é interessadíssimo em limpeza e ordem, se sente inválido muitas vezes, lê sobre tudo e mais um pouco, de vez em quando sofre ataques de pânico, enfim, quer controlar tudo e sofre sozinho.
Caso viva sob a égide da perversão, adora ver o outro angustiado. Se nasceu sob o signo da psicose, você é frágil, delirante e pouco afetivo.
Bem, não sobram muitas opções para a escuta de um psicanalista em sua clínica.
Problematizo a questão do uso do diagnóstico diferencial por parte dos analistas. Muitas vezes, se não tomarmos cuidado, deixamos de ouvir o paciente, assim como os médicos fazem em nome de uma epistemologia positivista.
Cada caso, é um caso. O sujeito que procura a análise está em sofrimento e com certeza é ele quem pode dizer e se quiser, saber de si. Muitas vezes, olhá-lo como histérico ou seja que patologia for, fecha as possibilidades de uma escuta clínica mais profunda e efetiva.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Lacan e Descartes. Aonde está o sujeito?

"Penso, logo existo". O filósofo com esta afirmação pressupunha que o sujeito se dava via pensamento. Lacan quando trata da constituição do eu, desde nossos primórdios, afirma que o sujeito está aonde não pensa. O quer dizer?
Quando falamos sobre nossos pensamentos, aprendizagens, não estamos nos referindo ao não saber. O inconsciente, nos fornece um saber que não se sabe ou que já foi esquecido. Além disso, um saber que tem um limite. Não dá para saber tudo.
Nesse sentido, o sujeito da psicanálise é um sujeito que não sabe o que diz, que está justamente aonde não pensa. Está no sentimento, nas incongruências.

quarta-feira, 17 de março de 2010

A eficácia da psicanálise na questão do luto

A perda de alguém muito importante, a mudança de país, aborto, perda de emprego, perda de amizades. O processo de luto envolve não só a perda de alguém querido e amado. Situações de separação sejam elas de que tipo forem, são situações de luto. Uma análise pode ajudar alguém neste estado. Como? Antes de responder como, chamo a atenção para a questão contemporânea da ordem médica que diz: temos remédio para tudo, a felicidade total é possível, somos somente um corpo biológico. Por isso, se deprimimos é porque os neurônios não estão fazendo sinopses adequadas.
O discurso médico nos fornece uma idéia de que o sofrimento humano pode ser tamponado com medicações. E o luto? Também.
O luto é um processo que ao meu ver deve ser vivido. Tem um início que se manifesta com uma certa revolta em que o iniciante enlutado nega a idéia da perda. Briga com o objeto ameaçado de morte. Após este período o próprio sujeito diz: quero o melhor para o objeto amado. Ele vai abrindo mão do seu desejo para olhar o outro até que conclui o que pensa ser melhor não para si e sim para o outro. A partir deste momento ele provavelmente vai vivenciar a perda real. Chora, se deprime, sofre.
Quem nunca fez uma análise pode saber que este momento é um dos melhores para iniciá-la. Quem já fez, sabe de algo do inconsciente. Quem está fazendo, trabalha psiquicamente.
Como então a análise pode ajudar o sujeito enlutado?
Propiciando primeiramente que ele signifique o que perdeu. No caso da perda de alguém, que lugar esta pessoa tinha para ele? São perguntas que muitas vezes demoram a ser respondidas pela pessoa em análise. Por fim, chorar pelo que perdeu.
É importante pontuar o que perdeu para não ser tomado por uma idéia de que perdeu tudo. Discriminar o que exatamente perdeu é a chance do sujeito continuar apesar de sua dor. E continuar bem.

terça-feira, 9 de março de 2010

Esse é para ginecologistas

Dedico este texto aos médicos que lidam com uma mulher grávida.
Mesmo que saibam tudo ou quase tudo sobre gestação, deixo uma dica sobre suas falas e suas relações com a gestante. Jamais digam que a criança está pequena, grande, normal ou anormal. O casal grávido vive um momento imaginário, de angústias em relação á eles próprios como pais e em relação ao estranho. O estranho é o bebê. Qualquer fala referente à imagem da criança pode ser extremamente perturbadora para os pais. Claro que se a criança precisar fazer algum exame pois não está se desenvolvendo adequadamente ou parou de se desenvolver, o médico terá que indicar de alguma forma. Porém, vale falar em termos de ser cuidadoso, de dizer que o fato de ter que se submeter a algum exame extra, é comum, pois sabemos que é mesmo, que muitas pacientes já fizeram.
Não sabemos o que representa para uma mãe e um pai a fala que o filho está grande ou pequeno ou assim ou assado. Limitem-se a responder o perguntado.
Caso percebam algo de outra ordem na relação deles com a criança ou entre eles próprios, encaminhem a um profissional especializado.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Choro do bebê

Acreditem ou não, cientistas japoneses desenvolvem "tradutor" de choro de bebês. Choro relativo a dor, fome, sono. Esse "tradutor" não é a mamãe, não é o papai, não é a babá nem a vovó. É uma máquina. Um computador superpotente capaz de significar o choro do seu filho sem que você precise olhá-lo, decifrá-lo, enfim, estabelecer uma relação com ele. Aquele bebê que é sempre estranho pois é um ser novo no convívio familiar,vai ser traduzido por um computador.
Preocupante no mínimo não acham? Como vai ficar sua entrada no mundo simbólico? Será que os pais tem a idéia de que saberão tudo sobre o filho?
Caso afirmativo, é um tremendo engano. Caso negativo, menos mal.
Interessante pensar esse sujeitinho que acabou de vir ao mundo como um desconhecido que vai formando seu psiquismo na relação com outro. Outro ser, outro sujeito. Mas com uma máquina?
Quais seríam as consequências caso pessoas optem por utilizar o aparelho?
E Lacan dizia que as máquinas não falham. Não falhar, é o pior. O mal entendido, a falta, estão aí para nos fazer desejar, se fazer entender. Aí nasce a linguagem e a entrada no mundo simbólico.
Como afrouxa a amarração do sujeito neste mundo simbólico na psicose.
Bem, novas relações neste século XXI. A relação dos pais com o computador...

Dança- psicose- social

A dança, pensada como uma expressão artística pode ser um elo com o social na loucura. Os loucos não tem lugar em São Paulo. Os CAPS tentam, os psicólogos, também. Os médicos, medicam. Os analistam debatem.
Mas, a loucura pensada como uma rede, não tem lugar.
Ou melhor, o lugar destinado na maioria das vezes, é o da exclusão. Enquanto sujeitos paulistas, temos inúmeras dificuldades para acolher simples diferenças, quanto menos, psicóticos, paranóicos, delirantes, esquizofrênicos, autistas, bipolares, e o que mais tiver de patologias.
Em função deste não lugar, reflito e coloco que a dança, além de suas propriedades de prótese de constituição psíquica, ela pode fazer uma ponte entre aquele que porta a loucura e o social. Pintores famosos, escritores, dançarinos fizeram essa ponte sem "intenção".
Aposto na idéia da dança, do corpo que pode dançar, como uma possibilidade de inclusão na sociedade.
Ali, aonde não há voz, que se manifeste um corpo que possa falar,que possa publicar o não dito. E além disso, que possa posteriormente, se responsabilizar pela publicação.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Consequências da problemática escola-empresa. O impasse na aprendizagem

Destaquei o lugar do professor como central na relação com os pais, com a direção e principalmente como o aluno.Continuo.
O professor tem uma certa relação particular com a matéria que ensina. Exatamente esta relação, é, a que será captada pelo aluno. A forma como ele trasmite sua relação com a matéria, poderá ser propiciadora ou não do desejo de saber do aluno. Nossa! Quanta responsabilidade o professor carrega! Isso mesmo. Tratemos bem os professores!
O aluno, por sua vez, tem sua família de origem, valores, relações, questões próprias e gostos particulares. Aptidões específicas.
Ele chega em sala de aula e encontra um professor exausto, ou disposto a dar aula, ou desinteressado, ou com problemas pessoais, ou se sentindo desvalorizado por não ser reconhecido como gostaria, ou...
Neste campo, parece relevante refletir sobre um tema atual que se denomina fracasso escolar.Alunos disléxicos, sem limites, agressivos, desrespeitosos, hiperativos, depressivos, suicídas, alunos que não aprendem.
Coloco a seguinte questão: De que se trata esse fracasso escolar? De variáveis como o olhar da escola para o aluno, de suas relações em família, da demanda da família para a escola, do professor que flutua em seu humor, enfim, de que se trata? Existiria uma resposta afirmativa, fálica que diga: é isso?
Provavelmente não. Mas o que consigo e posso afirmar é que necessariamente o aprendizado passa pela relação do professor com o aluno. O aluno com suas preferências e tendências.O professor, com seu empenho e desejo de trasmissão. E o aluno que não se interessa pela matéria que o professor tanto ama?
Não me parece que o aluno deva gostar ou não de uma matéria. O que ele capta, é como o professor provoca ou não o desejo de saber.
O fracasso escolar me parece que pode ser localizado aí.Aonde? Neste campo da relação com o professor.
Podendo localizar a problemática é possível uma boa intervenção desde que demandada.
Deixarei em aberto uma questão que se refere á importância dada tanto pela instituição, como pelos pais, em relação á figura do professor. Afinal, o que ele vai transmitir,não será somente sua relação com a matéria, mas, também como capta o olhar dos pais,da direção e dos colegas e como se posiciona em relação a isso.
Assim, ela vai fazendo sintomas. Perde a voz, deprime, desiste da profissão...
Ele tem uma enorme responsabilidade sim, talvez por isso até a depressão muito comum em professores. Porém, ele deve atender várias demandas. Até chegar na relação que ele tem com a matéria, tem um percurso que passa pela direção.
Ou seja, para chegar no desejo de saber, a história parte dos pais que demandam seus desejos na escolha da escola e para ela. Depois, como a escola se posiciona em relação ao desejo dos pais. Pois dependendo da posição, ela massacra o professor. E digo e repito: O professor é a figura central quando se trata de sucesso ou fracasso na aprendizagem.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Problemática levantada- escola empresa

Refletindo sobre o lugar metafórico da escola, coloco que a instituição escolar neste momento contemporâneo se tornou uma instituição nos mesmos moldes de funcionamento de uma empresa. O cliente demanda. A empresa, atende. A escola atende o pedido dos pais. Os alunos que captam essa demanda por sua vez, dizem aos professores: "Eu te pago, você deve fazer tal coisa..."
Os pais querem uma escola ou que insira seu filho no mercado de trabalho ou que privilegie a construção do conhecimento ou que mescle essas duas vertentes. A escola, por sua vez, faz esforços para atender o cliente, caso contrário, não terá alunos.
A problemática que levanto é sobre este atender ao pedido dos pais e suas consequências para o próprio aluno. Claro que ouvir os pais é importantíssimo para localizar a criança e sua relação com o saber, para saber o que os pais esperam, enfim, como um pano de fundo para o que talvez seja o essencial.
O fundamental me parece ser fazer o que se diz. Se é melhor o construtivismo, o sócio, o tradicional, não importa tanto. Importa sim, se o que a escola diz acreditar, se ela faz.
Por isso, esse "atender" ao pedido dos pais, me parece ser perigoso em relação ao comprometimento com as crenças educacionais. Talvez não seja um pedido tão disparatável. "Faça meu filho um estudante"; "Estimule o desejo de saber de meu filho"; "Faça ele entrar no vestibular".
Pedidos genuínos. A questão que se impõe talvez seja no COMO é atendida a demanda dos pais.
A empresa escola então, presta serviços aos pais e alunos tentando dar conta de atender a demanda dos pais. E os alunos? Como ficam? Essa é uma outra questão, mas o que se impõe agora é o lugar do professor já que le é quem vai tentar dar conta deste atendimento.
Ele, no meio de uma espécie de guerra. Tem que atender ordens de superiores, tem que dar conta de classes com 30, 40 alunos ou mais, tem que dar todo o conteúdo. Já pensaram como ele se sente ao final de um dia? Suas angústias, seus fracassos certeiros. Sim, neste jogo de atendimento de demandas o fracasso é certo já que é humanamente impossível dar conta desta guerra.
Com tudo isso, o aluno é o que mais perde. Perde na relação com o professor que já entra uma pilha de nervos para dar aula, perde então no desejo de saber pois a relação com o professor é o motor do desejo de saber. Na maioria das vezes, não tem como digerir esse excesso, degustar e desejar novos saberes.

A psicanálise e suas aplicações

O setting psicanalítico comporta, via de regra, duas poltronas e um divã. A questão que coloco é a seguinte: Se pensarmos que a transferência seria um motor para o tratamento analítico, não importaria o setting e sua proteção. O tratamento psicanalítico, pode se dar em qualquer lugar desde que exista a transferência e o desejo de saber do inconsciente por parte do analisante e o desejo de análise por parte do analista.
A psicanálise também pode ser aplicada na escola, na política, na cultura...
Neste caso, não seria um tratamento. Seria um viés, um olhar sobre determinado acontecimento, fato, fenômeno, que parte do pressuposto de que o inconsciente existe e diz algo.