quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Tetro, o filme do sintoma.

Tetro ou tétrico é o filme. Enredo brilhante. Pontual na idéia da criança como sintoma da família, denunciando a verdade dos pais.
Questões sobre o que pode ser transmitido entre gerações aparecem de maneira clara.

O que pode ser transmitido? Mais especificamente quando uma família guarda um segredo. Algo velado que gera sintomas. Um homem que só pode se tornar pai a partir do momento da morte do pai.

O filme trata de questões psicanalíticas no âmbito dos sintomas infantis e no conceito de loucura proposto por Lacan. Além disso, Tetro, ilustra a falta da função paterna e a consequência automática da paralisação de um sujeito, da sua morte em vida. Um sujeito tétrico, tomado por uma angústia profunda, vendo a vida passar.

Coppolla é magnífico...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Provocação sobre o tratamento psiquiátrico

A provocação que coloco é a seguinte:
Como é possível tratar um paciente que adoece e que localiza o momento inicial de sua doença associado por exemplo com a perda de alguém significativo? Em entrevistas iniciais, perguntei ao paciente quando começaram seus sintomas. Seus sintomas eram: pressão alta, sensação de infarto, coração disparado, calor que queimava o corpo, sensação de morte ou como a psiquiatria chamaria: pânico).
Ele respondeu: "Quando perdi minha mãe. Eu vi suas mãos caídas no chão e depois o corpo. Nesta hora, tudo começou".
Como tratar então sua "doença"? Porque medicar-lhe se o que este paciente revela é um saber. Ele associa e localiza assertivamente o início de sua angústia. Ele diz claramente que a angústia se vincula ao momento da perda do ente querido. O que isso quer dizer? Que lugar o morto tinha para o paciente? O que foi que ele perdeu? Como era sua relação com ele?
Pedi então que o paciente falasse sobre o ente. Ele avança em seu saber inconsciente: "Eu senti culpa pois achava que se eu tivesse chegado antes, isto não teria ocorrido. Se eu impedisse que ele trabalhasse menos, ele não teria infarto". Intervi dizendo: "Infarto?".
Pois bem, a sensação de infarto que este paciente tinha em suas crises de pânico não traríam questões para quem trabalha com este paciente? Porque infarto?
A provocação que pretendo e desejo é que tratar o luto com medicações é uma forma justamente de não tratar. Está explícito que o paciente nos traz de "bandeja" que seus males estão diretamente ligados a algo que não sabemos muito bem o que, mas alguma coisa ligada ao parente e ao lugar que o paciente tinha também para o ente. Pois ele perdeu também este lugar.
Para finalizar a provocação, que não se encerra aqui, relato algo mais preciso que óbvio, veio da fala do paciente: "Quem eu perdi, falhou muito comigo. Mas, na hora que eu ficava doente, ele sempre estava lá. Era só ele que sabia o que eu tinha. Ele resolvia tudo e realmente cuidava de mim. E eu, quando me sinto mal, com aquele calor, aquela sensação de infarto, vou ao hospital e só me acalmo quando o médico diz que não tenho nada". "Eu até sei que não tenho nada, mas preciso que o médico me diga".
Não irei concluir justamente para deixar em aberto, mas, me parece que no hospital e adoecendo, é uma forma de não lidar com a dor de perder alguém e continuar apesar de...
Os sintomas aparecem para tamponar a falta do outro. Dando remédios, até podemos "remover" alguns sintomas. Porém, e o buraco? Como o paciente poderá se defender do buraco, da falta? Esta, não se "remove". A falta, demanda ser resignificada, elaborada. Como dizia Freud em "Recordar, repetir e elaborar", o que não é elaborado, se repete. Até que...

domingo, 5 de dezembro de 2010

O que os psicanalistas não dizem!

O que será?
O psicanalista enfatiza a questão do não dito, tenta ajudar o paciente a traduzir algo inconsciente, reflete sobre o feminino em psicanálise, coloca que o gozo feminino é de uma ordem do impossível de se dizer e o que ele faz com tudo isso?

O que o analista não diz? Ele se preocupa tanto com a direção do tratamento, com identificar qual foi a intervenção x que causou, com a escrita, com qual o lugar que o cliente o coloca, com, com, com...

Mas, e com o seu não dito? Se partirmos de uma lógica que coloca o lugar de um analista mais próximo do feminino, como cuidar daquele que se propõe a se colocar ativamente no lugar de resto, objeto, causa. Aquele que causa o desejo.

Aquele que é um nada, o que tem a dizer? O que os psicanalistas não dizem?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

E por falar em amor...

A dança me deu amor.
Me deu tudo o que precisava, necessitava e desejava na adolescência.
Me deu estrutura, preenchimento fálico...
Funcionou como uma medida fálica.

"AMAR É DAR O QUE NÃO SE TEM"
(J. Lacan sem XX).

Pela lógica da citação, amar é dar a falta. O que não temos, é o que nos falta.
Se afirmo que a dança me deu amor, ela me curou e me propiciou desejar. Só desejamos quando algo nos falta.
O que quer dizer a dança me deu amor? Ela funcionou como a Outra, uma alteridade. A função paterna do desejo da mãe.
Porque a dança?
Não sei.

O gozo da insatisfação

Um paciente com anos de análise, que apresentava como sofrimento principal o fato de se sentir insatisfeito, no início de uma sessão disse: "Eu me encontro na insatisfação". Que quer dizer isso? Poderia ser uma constatação do quanto se sente insatisfeito. Porém, há um jogo nas palavras e em sua análise: O sujeito se reconhece, se encontra no lugar da insatisfação. É neste lugar que ele se fundamenta.
Topológica problemática!
Porém, se pensarmos na fórmula da fantasia S barrado punção de a, o lugar da insatisfação é o do objeto. E como é difícil abrir mão do gozo deste lugar.
O paciente não quer perder nada, se coloca como um resto. Desta forma, não há nada a perder. A lógica é a seguinte: "Se sou tão ruim, vazio, insatisfeito, mal amado, desgraçado, fico confortável com meu sintoma já que abrir mão dele seria viver. Viver e poder saber aonde não caminho, saber dos meus limites e desejos. Aonde não vivo, não desejo. Aonde sou o pior de todos, nada me falta".
Acontece, que o tempo cronológico passa, a vida passa e há uma perda sim. É preciso tratar a insatisfação para que ainda tenha tempo de desejar, de amar.
A transferência com o analista, pode funcionar como uma cura. A cura pelo amor.
O AMOR, CURA.