terça-feira, 20 de março de 2012

Pina Bausch e o estádio do espelho


O eu é corporal! Freud já dizia...

A psicanálise lacaniana se interessa pela divisão do sujeito. Não um sujeito dividido entre corpo e mente, entre psíquico e somático. A divisão que interessa é a divisão do sujeito que não sabe o que diz. A partir do momento do nascimento do sujeito, ou seja, quando ele deixa sua posição infan e passa para um lugar falante, nasce também sua divisão.

Ele é dividido pelo significante. Este marca seu corpo e seu lugar no mundo. Ele fala. Como habitará a linguagem se dará a posteriori. O que interessa é a passagem de um ser que ainda não fala para um sujeito faltante, falante.

O que importa nesta possibilidade é o espelho, o eu, o corpo, o outro e o Outro. Que necessita para falar? Para faltar? Porque o bebê não nasce falando, andando, pensando? Um corpo infan é um corpo concreto, ausente de representação, sem marcas, sem palavras. Um corpo desamparado pela insuficiência orgânica. Imaturo neurologicamente.

A questão que coloco é a seguinte: Que acontece que alguns infans não se jubilam diante de sua imagem quando o tempo cronológico já lhes permitiríam se reconhecer? É a falta do outro? Do Outro? É o corpo biológico que veio com “defeito”? É a relação com o outro?

Tampouco se trata de responder com sim ou com não. Talvez trata-se de refletir que o sujeito aprisionado em seu corpo, em seus significantes, regido pelo seu inconsciente, pode fazer algumas pequenas escolhas. Pode recusar o contato com o outro. Isso é uma forma de contato!

Onde está a dinâmica libidinal de um bebê que não se entretém com sua imagem? Sua carência é de libido! Quem pode dar o que ele não tem? Quem pode dar libido? É possível uma prótese libidinal?

O filme em 3D de Pina Bausch nos revela o que um outro pode dar e assim constituir um sujeito dançante!

Seu trabalho estonteante e magnífico nos ilumina! Esta mulher, dava, oferecia, ofertava palavras aos bailarinos. Estas marcavam seus passos, corpos, movimentos, suas vidas. Os corpos dos bailarinos pulsavam, transbordavam de energia sexual, ou seja, de dinamismo libidinal!

A transferência com Pina e sua oferta de palavras justas no momento certo, o corpo erotizado por essas palavras, tudo isso, contribuía para a explosão de talento de seu trabalho. Uma das bailarinas dizia: “Trabalhar com Pina era muito bom pois podíamos expressar todos os nossos sentimentos”; Outra dizia: “Não entendia porque ela nunca parava de trabalhar”; Outro apontava: “Ela nos perguntava sobre nossos desejos”.
Pina marcava os bailarinos e bailarinas com a força de sua presença que se faz mesmo após sua morte.
Inspirada no texto do estádio do espelho de Lacan, causada por Pina Bausch escrevo este texto refletindo sobre a importância da inscrição da palavra no corpo. A constituição psíquica, a constituição do corpo envolve o amor, o que se pode dar ao outro. Podemos dar palavras justas ou não. Podemos desestabilizar o outro ou não.

Os bailarinos diziam que Pina desvendava suas almas com seu olhar atento e particularizado para cada um. Isso é função materna! O mundo está tão carente disso!







 















sábado, 3 de março de 2012

Folie à deux X loucura materna




O conceito de loucura é amplo. Partiremos da idéia de que a loucura é produzida em rede. Dois sujeitos adoecem. O encontro dos dois produz a loucura. TODA LOUCURA É RELACIONAL E VIVIDA NA RELAÇÃO COM O OUTRO!

Alguns casos que apresentam um semblant de histeria com melancolia, podem se tratar de casos de folie à deux.
 São casos de loucura produzida na relação mãe-filha. A filha, geralmente no lugar de ser empregada do gozo do Outro. A mãe, emprega a filha.
Diferente da loucura materna na qual a mãe se emprega nas questões do filho.
São casos difíceis de tratar. Os psicanalistas muitas vezes idealizam e almejam que a´"saúde" psíquica tem haver com a separação da mãe. Justamente aí, que os casos de folie se tornam complicados pois se separar da mãe pode levar à morte física.
A condição de separação exige um ato. Se separar do desejo da mãe que se separou do desejo da avó.
AVÓ-FILHA-NETA.

Porque se separar da mãe? Eis o caminho para a feminilidade. O desejo da mãe é invasivo por natureza.
Os casos de folie à deux revelam a perturbação da relação especular com o outro. A paranóia. O sujeito desaparece como uma saída para se separar de uma relação tão invasiva vivida com a mãe.

A mensagem que deixo sobre esses casos é acolher e tratar a mãe. Não é tratar o par ou a família, mas a mãe, escutar as questões que se apresentam coladas. O que vem colado não é singular. O feminino é singular. Nesse sentido, o feminino é a tentativa de dar forma, borda ao vazio. É a possibilidade de tornar-se mulher e viver um outro gozo.