quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O discurso psi das mães e pais perdidos

É um fato. Pais sofrem, se angustiam, fazem loucuras, erram, acertam, ignoram, são gente de carne e osso. Muitas vezes, dão significados aos sintomas e ações do filho que são equivocados. O equívoco, não é em relação a estar interpretando certo ou não, mas, são os próprios filhos que muitas vezes sabem de que se trata em seus sofrimentos.
A dificuldade se faz presente. Não é fácil endossar a posição do filho. Na verdade, o difícil parece ser perceber que o filho tem desejos próprios, questões próprias e que sofre. Nesse campo, os pais, por sua vez, sofrem também.Senten-se impotentes, insuficientes e muitas vezes se distanciam em função de tamanha  dor de ver seus filhos sofrendo.
A área psi, oferece um amplo leque de atuações, idéias, tratamentos ás crianças.
Como a psicanálise trata, olha e entende esse desconforto entre pais e filhos?
Cada analista dirige cada caso singular. Porém, o que existe para esta área do saber é: o não saber.
O analista não sabe, os pais tampouco.Isso não tira a responsabilidade do lugar de pai e mãe.
A psicanálise pode oferecer a construção deste lugar. Sem regras, sem certezas. Com singularidades.
Pode ela orientar? Que tipo de orientação um analista dá? Aquela que diz: Não há receita. Os ingredientes estão aí, alguns podem faltar. Se faltar algum, o analista construirá junto com os pais e a criança. Se estão todos disponíveis, a direção é: Como fazer o bolo? Como os pais e o filho querem executar a receita?
É nisso que pais, mães e filhos são responsáveis. Cada um faz o bolo do jeito que é possível.

Palavras de mulheres dançantes

Uma vez, uma professora de dança me falou que seu corpo dói. Ela dizia: "Para uma musculatura se desenvolver, há, necessariamente uma lesão". Perguntei se não teria outra maneira de desenvolver o corpo, de trabalhá-lo sem que a dor esteja presente. A resposta, foi não.
Coloco a questão sobre o lugar da dor no corpo que se manifesta em vários bailarinos. Eles relatam, que, se o corpo dói, esse fato, é uma maneira de sentir que estão fazendo.
Seria um acting out?
Um imperativo? Tem que doer !
Uma posição dualista?
De que se trata do ponto de vista do corpo em psicanálise? Que corpo é esse?
Poderíamos pensar em uma fantasia de corpo morto?
O que quer dizer sentir que está fazendo? Fazendo o quê?
Questões iniciais para pensar em um trabalho de articulação entre dança- corpo- psicanálise.
Que sujeito é esse que diz ter que sentir dor para trabalhar o corpo?
Uma face masoquista?
Não parece ser tão simples a resposta.
Porém, o fato pede uma interpretação. De que se trata?

O médico, o paciente e o analista

Como é difícil para um analista em instituição dialogar com o médico que receita medicação para seu paciente! Que acontece que os campos da medicina e da psicanálise se apresentam tão distantes na questão do olhar e do tratamento?
Os psi, encontram sérias dificuldades de estabelecer um diálogo com médicos. Os médicos, quando não sabem o que fazer, encaminham para os psi. Porém, não dialogam.
Como costurar, criar um espaço de interlocução entre as duas áreas? Porque?
É mais fácil justificar do que costurar. É simples. Visando o paciente, este é o que mais tem a ganhar com esta interlocução.
Como ? Eis a questão. A medicina, em seu discurso de saber absoluto, deveria olhar para os sintomas não somente como algo aparente, mas, sim, como uma pergunta. Uma das maiores dificuldades dos médicos é a questão do não saber. É justamente aí, que a psicanálise pode acrescentar e o paciente se beneficiar.
A psicanálise dá lugar ao não saber. Isso causa uma certa dose de angústia, mas, faz toda a diferença na formação do médico. Este, não é analista, mas pode reconhecer que tem algo misterioso, algo que ele não entende. Com isso ele poderá avançar no tratamento de seu paciente. Como?
Tendo alguém, um lugar que ele se sinta confortável com sua falta de saber, ele terá que avançar e trabalhar, de fato, cada caso que atende. Falando, ele pode construir um saber a mais.
Ele poderá também, se distanciar um pouco da alienação do discurso médico. Traduzindo, ele vai olhar cada caso, como singular. Justamente o que a medicina anula. esse fato, é e será um diferencial.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Medicação para todos; análise para alguns

Freud dizia que o analista deve recuar diante da psicose. Ele não via possibilidade de um psicótico ser atendido por um analista. O universo excludente que foi se criando em torno da psicanálise, propiciou o lugar de exclusão. Excluídos da análise, aqueles que não podem bancá-la (tanto financeiramente quanto psíquicamente).
Lacan construiu o conceito de sintoma, envolvendo Marx na questão da proletariedade. Inovou! Somos proletários de saber inconsciente. Justo aí que a noção de sintoma aparece. Não sabemos dos nossos sintomas.
A parte questões analíticas, a indústria farmacêutica progride. Cria novas e mais novas medicações. Não só para psicóticos. Medicações para qualquer um que estiver um pouquinho preocupado com qualquer questão. O CID também acompanhou esta evolução da indústria farmacêutica. Criou transtornos e mais transtornos fazendo com que qualquer mortal se identificasse com um ou mais transtornos.
E? O que fazemos? Pergunto a todo e qualquer ser humano. Somos engolidos pela organização que produz doenças e remédios? Perdão! Eles são muito bons. tiram nossas questões, nos amortecem e nos deixam ver a vida mais bonita. Porém, quando paro a medicação, na maioria das vezes, por conta própria, o mundo desaba.
Desaba? Não. O mundo volta a ser o que era. O bicho papão ainda existe e está lá.
Outra forma de dizer, a sujeira está embaixo do tapete. A dor está lá. Será que não temos recursos para enfrentar nosso fantasma? Queremos mesmo viver alienados ao discurso da ciência? O todo poderoso?