sexta-feira, 27 de abril de 2012

Algumas considerações: Para além do ter um filho, o constante tornar-se mulher


Uma condição para a feminilidade é a diferenciação sexual. Para saber da castração, a menina, prestes a iniciar seu processo do tornar-se mulher, encontra-se na dialética do ter ou não ter o falo!
Ela o tem a título de ausência, logo, a maneira que o possui é simbólica. A partir daí, qual será a saída para a questão: O que quer UMA mulher? Um filho? Filho-falo. A maternidade? Ser mãe responderá ao enigma da feminilidade? Para muitas mulheres, o abandono de si, o fechamento para uma experiência associada a um gozo outro pode estar ligada ao novo papel: ser mãe.

Ser mãe é ter. Ter um filho. As mães têm! As mulheres, também têm o falo que pode ser o trabalho, o parceiro, bolsas, sapatos. Porem não todas vivenciam um gozo além do ter. Um gozo que escapa às palavras e à lógica capitalista.

Um outro Gozo; pode ser uma experiência mística, uma dança, um envolver-se com um quadro, um choro após uma leitura de uma bela poesia, um orgasmo múltiplo, um arrepio...

A feminilidade, longe de estar associada à maternidade, está em algum outro lugar. Um lugar que escapa ao olhar. Um lugar que envolve alguma presença não vista. Um lugar a ser tecido como uma artesã que tece seu tear.

O feminino não está dado, não está pronto. Trata-se de uma construção do uma a uma. Claro que o início desta viagem é o falo, aquele que regula a relação entre um homem e uma mulher. Porém, sem comparação. Um outro discurso.


segunda-feira, 9 de abril de 2012

Habemus Papam- Consequências de uma certa transmissão psicanalítica



Filme em cartaz de Nanni Moretti.
Para além do roteiro, a reflexão que proponho é sobre a sustentação de um semblante. O que a psicanálise pode oferecer a um sujeito que durante anos atua? No filme, longe de um tratamento convencional psicanalítico, ocorre o que poderíamos denominar de possibilidades de transmissão da psicanálise fora de um setting analítico e de um tratamento propriamente dito. Há algo de uma captação do sujeito que se aproxima de um saber analítico. 
O personagem de Michel Piccoli nos permite questionar como o ser humano é capaz de sustentar um semblante por anos. O papa é nada mais nada menos que aquele que se comunica com Deus. Para os sem questões, um semblante pode se manter e consistir. Porém, o personagem nos revela sobre a impossibilidade de ocupar esse lugar tão poderoso. A psicanálise entra no filme como um agente limitador por um lado e libertador por outro. O limite alivia.
Com dificuldades e dramas, o eleito a ser papa consegue falar. Falar justamente que o semblant caiu. Ele expressa seu limite. Marca a diferença entre ser ator e atuar na vida. A queda do semblant pode ser um dos efeitos de uma análise. Um sujeito não sai ileso de um processo analítico. Ele pode até continuar com seu sintoma, mas se responsabilizará como pode por ele.
A psicanálise como área do saber, entra no filme, ou seja, na cultura e oferece algo ao sujeito. A possibilidade de ser mais ético com o desejo. O sujeito que atua, pode estar desprovido de saber de si. Pode não saber do seu próprio desejo. Ele deixa de ser genuíno. A psicanálise toca o singular de cada um, o que cada um tem de único! Não dá para sair ileso deste fato.