quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Saídas para o ser do século XXI

Porque um espaço para olhar? Olhar o quê?
Quando estamos envolvidos, misturados com algum saber, alguma verdade, não podemos olhar. Para olhar, precisa de uma distância e consequentemente de um espaço, de uma separação. Acontece que muitas vezes precisamos de uma verdade para nos estruturarmos, temos interesses, necessitamos de uma garantia de que o caminho que percorremos está "correto". Neste caso, não há lugar para questões. Aí que mora o engodo de nós, seres desamparados pela condição humana.
Que acontece quando nos separamos de uma verdade absoluta e instauramos uma dúvida, uma pergunta, um pensamento que procuramos rejeitar?
Angústia. Vivemos em uma época em que não devemos ter angústias. Temos que ser felizes, capazes, eficientes e perfeitos. Este é o ideal do século XXI.
Porém, em nosso íntimo, sabemos que não existem garantias. Não sabemos. Não sabemos quando morreremos, como. Sabemos que o fim é certo.
Perdas são certas, reais. Perdemos pais, amigos,filhos, trabalhos, diversões. Perdemos.
A questão que se impõe é a seguinte: gastar energia dando conta da ilusão de ter garantia ou refletir e trabalhar psiquicamente como lidamos com nossas perdas?
Estar alienado, misturado significa de certa maneira estar no mundo na forma: Eu sou o outro. Já que somos um, eu sou o outro.
Separar, dói. Porém, nos liberta de nossa radicalidade. Nos leva para a vida. A vida que propicia riscos e escolhas. A vida que revela a responsabilidade de nosso gozo, de nossa posição, nosso lugar, nossa topologia.
Perdemos, mas não nos perdemos com nossas perdas. Ao contrário, é aí que nos encontramos simbolizando o que o objeto perdido representou.