segunda-feira, 22 de março de 2010

Lacan e Descartes. Aonde está o sujeito?

"Penso, logo existo". O filósofo com esta afirmação pressupunha que o sujeito se dava via pensamento. Lacan quando trata da constituição do eu, desde nossos primórdios, afirma que o sujeito está aonde não pensa. O quer dizer?
Quando falamos sobre nossos pensamentos, aprendizagens, não estamos nos referindo ao não saber. O inconsciente, nos fornece um saber que não se sabe ou que já foi esquecido. Além disso, um saber que tem um limite. Não dá para saber tudo.
Nesse sentido, o sujeito da psicanálise é um sujeito que não sabe o que diz, que está justamente aonde não pensa. Está no sentimento, nas incongruências.

quarta-feira, 17 de março de 2010

A eficácia da psicanálise na questão do luto

A perda de alguém muito importante, a mudança de país, aborto, perda de emprego, perda de amizades. O processo de luto envolve não só a perda de alguém querido e amado. Situações de separação sejam elas de que tipo forem, são situações de luto. Uma análise pode ajudar alguém neste estado. Como? Antes de responder como, chamo a atenção para a questão contemporânea da ordem médica que diz: temos remédio para tudo, a felicidade total é possível, somos somente um corpo biológico. Por isso, se deprimimos é porque os neurônios não estão fazendo sinopses adequadas.
O discurso médico nos fornece uma idéia de que o sofrimento humano pode ser tamponado com medicações. E o luto? Também.
O luto é um processo que ao meu ver deve ser vivido. Tem um início que se manifesta com uma certa revolta em que o iniciante enlutado nega a idéia da perda. Briga com o objeto ameaçado de morte. Após este período o próprio sujeito diz: quero o melhor para o objeto amado. Ele vai abrindo mão do seu desejo para olhar o outro até que conclui o que pensa ser melhor não para si e sim para o outro. A partir deste momento ele provavelmente vai vivenciar a perda real. Chora, se deprime, sofre.
Quem nunca fez uma análise pode saber que este momento é um dos melhores para iniciá-la. Quem já fez, sabe de algo do inconsciente. Quem está fazendo, trabalha psiquicamente.
Como então a análise pode ajudar o sujeito enlutado?
Propiciando primeiramente que ele signifique o que perdeu. No caso da perda de alguém, que lugar esta pessoa tinha para ele? São perguntas que muitas vezes demoram a ser respondidas pela pessoa em análise. Por fim, chorar pelo que perdeu.
É importante pontuar o que perdeu para não ser tomado por uma idéia de que perdeu tudo. Discriminar o que exatamente perdeu é a chance do sujeito continuar apesar de sua dor. E continuar bem.

terça-feira, 9 de março de 2010

Esse é para ginecologistas

Dedico este texto aos médicos que lidam com uma mulher grávida.
Mesmo que saibam tudo ou quase tudo sobre gestação, deixo uma dica sobre suas falas e suas relações com a gestante. Jamais digam que a criança está pequena, grande, normal ou anormal. O casal grávido vive um momento imaginário, de angústias em relação á eles próprios como pais e em relação ao estranho. O estranho é o bebê. Qualquer fala referente à imagem da criança pode ser extremamente perturbadora para os pais. Claro que se a criança precisar fazer algum exame pois não está se desenvolvendo adequadamente ou parou de se desenvolver, o médico terá que indicar de alguma forma. Porém, vale falar em termos de ser cuidadoso, de dizer que o fato de ter que se submeter a algum exame extra, é comum, pois sabemos que é mesmo, que muitas pacientes já fizeram.
Não sabemos o que representa para uma mãe e um pai a fala que o filho está grande ou pequeno ou assim ou assado. Limitem-se a responder o perguntado.
Caso percebam algo de outra ordem na relação deles com a criança ou entre eles próprios, encaminhem a um profissional especializado.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Choro do bebê

Acreditem ou não, cientistas japoneses desenvolvem "tradutor" de choro de bebês. Choro relativo a dor, fome, sono. Esse "tradutor" não é a mamãe, não é o papai, não é a babá nem a vovó. É uma máquina. Um computador superpotente capaz de significar o choro do seu filho sem que você precise olhá-lo, decifrá-lo, enfim, estabelecer uma relação com ele. Aquele bebê que é sempre estranho pois é um ser novo no convívio familiar,vai ser traduzido por um computador.
Preocupante no mínimo não acham? Como vai ficar sua entrada no mundo simbólico? Será que os pais tem a idéia de que saberão tudo sobre o filho?
Caso afirmativo, é um tremendo engano. Caso negativo, menos mal.
Interessante pensar esse sujeitinho que acabou de vir ao mundo como um desconhecido que vai formando seu psiquismo na relação com outro. Outro ser, outro sujeito. Mas com uma máquina?
Quais seríam as consequências caso pessoas optem por utilizar o aparelho?
E Lacan dizia que as máquinas não falham. Não falhar, é o pior. O mal entendido, a falta, estão aí para nos fazer desejar, se fazer entender. Aí nasce a linguagem e a entrada no mundo simbólico.
Como afrouxa a amarração do sujeito neste mundo simbólico na psicose.
Bem, novas relações neste século XXI. A relação dos pais com o computador...

Dança- psicose- social

A dança, pensada como uma expressão artística pode ser um elo com o social na loucura. Os loucos não tem lugar em São Paulo. Os CAPS tentam, os psicólogos, também. Os médicos, medicam. Os analistam debatem.
Mas, a loucura pensada como uma rede, não tem lugar.
Ou melhor, o lugar destinado na maioria das vezes, é o da exclusão. Enquanto sujeitos paulistas, temos inúmeras dificuldades para acolher simples diferenças, quanto menos, psicóticos, paranóicos, delirantes, esquizofrênicos, autistas, bipolares, e o que mais tiver de patologias.
Em função deste não lugar, reflito e coloco que a dança, além de suas propriedades de prótese de constituição psíquica, ela pode fazer uma ponte entre aquele que porta a loucura e o social. Pintores famosos, escritores, dançarinos fizeram essa ponte sem "intenção".
Aposto na idéia da dança, do corpo que pode dançar, como uma possibilidade de inclusão na sociedade.
Ali, aonde não há voz, que se manifeste um corpo que possa falar,que possa publicar o não dito. E além disso, que possa posteriormente, se responsabilizar pela publicação.