quarta-feira, 8 de junho de 2011

Torções entre a clínica, a dança e a psicanálise.

A dança da vida, da clínica.
Entre as questões que a psicanálise se ocupa, no que se refere à dança, destacarei o fenômeno físico do dançar para articulá-lo com alguns aspectos da clínica e da teoria psicanalítica. Em psicanálise lacaniana, teoria e prática não se separam. Aliás, a teoria só recebe algum sentido se estiver diretamente articulada com a prática.
No fenômeno físico do dançar, poderíamos dizer que a dança, neste sentido é uma sequência de movimentos coreografados ou não em um determinado espaço. No eixo ou fora dele. Dançar, necessariamente envolve algum tipo de movimento. Como um corpo se move? Ou melhor, o que move um corpo? O desejo? A angústia? O gozo?
Como este corpo se relaciona com o espaço? Aqui, entram as questões da imagem. Em termos de constituição psíquica, incialmente nos identificamos com o outro. Para nos constituirmos, necessariamente dependemos do outro. Essa relação é o que denuncia como se dá o imaginário para cada sujeito. Na loucura, o sujeito que dança encontra-se em todos os lugares. Ele é tudo. Não há uma separação entre o que é um palco e o sujeito. O que é uma parede e esse sujeito. Tampouco, não há a noção de eu e do outro.
O sujeito que enlouqueceu, sofre de problemas com o eu. A dança, pode ajudar um sujeito a tratar seu eu, sua imagem despedaçada, seu corpo desintegrado. Ela forneceria o que Jacques Lacan, psicanalista francês, chamou de nome do pai. O sujeito louco, sofre da falta deste conceito. Falta de uma medida fálica. 
Ou seja, quando uma mãe tem um filho, este, vem obturar sua falta. É como se nada lhe faltasse nessa hora e ela teria a ilusão de completude. O filho capta o seu lugar no mundo. “Sou aquele que completa minha mãe”; “Sou tudo para ela”; “Sou um mero objeto, impedido de desejar. Só poderei desejar se perceber que algo falta no outro mãe.”
O desejo, nasce da falta. Logo, se uma mulher que se torna mãe desejar algo além do filho, o filho terá sua função paterna ou o nome do pai dentro de si. “Uma mãe só é suficientemente boa se não o for em demasia”.
Coloco que dança é como se fosse uma mãe boa. Aquela que nos propicia desejar. E ela nos dá amor. “Amar, é dar o que não se tem”. Amar é dar sua falta. Mais do que ser “completa”, a incompletude é o que nos move. Metaforicamente, a incompletude pode nos fazer dançar, desejar.
Na dança, ocorre também a questão da satisfação escópica. A mesma linha de raciocínio. Se somos incompletos, dançar pode nos satisfazer em sermos olhados, de determinada maneira, por determinadas pessoas. Como uma criança que quer ser vista e diz: “olha mãe, pai o que eu sei fazer!”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário