quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Para residentes de psiquiatria

Como deve ser difícil para um residente de psiquiatria atender pacientes soma. A dificuldade localiza-se tanto em manejar a transferência como em poder questionar esses casos, característicos, de que a medicação não é tão importante. São pessoas que já passaram por várias especialidades médicas e por último, são enquadrados como pacientes com transtorno somatoformes.
O residente, quer aprender a medicar, dosagens corretas, discussões sobre medicações...
Que angústia então sair do script não é?
Uma pequena provocação para poder pelo menos vislumbrar um estado menos alienado dentro de uma área do saber.
Que questões poderíam surgir, caso pudessem se distanciar um pouco do saber médico e olhar para o fato de que a pessoa que converte, paralisa, entorta, finge, é uma pessoa em alto grau de sofrimento por necessitar de seus sintomas para viver e gozar.
É assim que estes sujeitos gozam e conseguem estar no mundo.
Como tratá-los então? O que um residente pode apreender com esses casos?

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Dançar

Ao obsevarmos aquele que dança, o que vemos? Um corpo que executa movimentos dentro de um determinado espaço, com determinada marcação de tempo. Se dança uma história, com movimentos leves, intensos, acrobacias, giros, isso é poesia.
Chamo a atenção para o fenômeno simplesmente de dançar.
Reflito que o corpo, condição principal de nos propiciar gozo, vida, se coloca em um espaço. No espaço, tem-se limite. Justamente por estarmos em um espaço, temos a condição de nos movimentarmos em nossos eixou ou ocupá-lo até a parede, o fim da sala, o término da praia, o tamanho do palco, da pista de dança...
Parece que na psicose, a parede até pode existir, mas o saber de que o corpo não é a parede, talvez não.
Estamos na área do conhecimento paranóico não é?
Seria somente na loucura essa indiferenciação entre o eu e o outro? o corpo e a parede?
A psicose seria uma "passagem" para a aquisição de uma perversão e depois uma neurose?
Respondo que a questão estrutural para mim, não faz avançar o atendimento que posso oferecer. Pelo contrário, ecoa algo do gênero: televisão, computador, máquinas dessubjetivadas.
Podemos dançar o clássico, repetindo movimentos até a perfeição, dançar o contemporâneo mecanicamente obstinados com a estrutura crânio sacral, ou, quem sabe, dançar dança do ventre executando sequências de movimentos sem intenção.
Porém, o corpo que dança, goza. Se goza, tem superego.

O erro do pai

O inventor da psicanálise eticamente, se questionou sobre o que não deu certo no caso Dora. A resposta que encontrou foi um erro sobre o objeto de desejo da analisante.
Isto é um fato. Diante deste, coloco que Freud de certa maneira atendeu a demanda do Sr K., seu conhecido e pessoa na qual ele nutria simpatia. Se interessou demais por imaginárias interpretações acerca do significado deste homem para Dora.
Afinal, o que Dora dizia? Em seus sonhos, sintomas, o que dizia?
Não seria o que se pode saber sobre a feminilidade? O que tem uma mulher para ser olhada e desejada por um homem?
O enrosco é que a outra, não sabe. Não tem a chave do mistério do feminino.
E aí? Como fica Dora? Como poderia ser tratada após o momento de constatação de que o outro, a outra não sabe?
Como se dá a articulação entre a histeria e o feminino?