quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Provocação sobre o tratamento psiquiátrico

A provocação que coloco é a seguinte:
Como é possível tratar um paciente que adoece e que localiza o momento inicial de sua doença associado por exemplo com a perda de alguém significativo? Em entrevistas iniciais, perguntei ao paciente quando começaram seus sintomas. Seus sintomas eram: pressão alta, sensação de infarto, coração disparado, calor que queimava o corpo, sensação de morte ou como a psiquiatria chamaria: pânico).
Ele respondeu: "Quando perdi minha mãe. Eu vi suas mãos caídas no chão e depois o corpo. Nesta hora, tudo começou".
Como tratar então sua "doença"? Porque medicar-lhe se o que este paciente revela é um saber. Ele associa e localiza assertivamente o início de sua angústia. Ele diz claramente que a angústia se vincula ao momento da perda do ente querido. O que isso quer dizer? Que lugar o morto tinha para o paciente? O que foi que ele perdeu? Como era sua relação com ele?
Pedi então que o paciente falasse sobre o ente. Ele avança em seu saber inconsciente: "Eu senti culpa pois achava que se eu tivesse chegado antes, isto não teria ocorrido. Se eu impedisse que ele trabalhasse menos, ele não teria infarto". Intervi dizendo: "Infarto?".
Pois bem, a sensação de infarto que este paciente tinha em suas crises de pânico não traríam questões para quem trabalha com este paciente? Porque infarto?
A provocação que pretendo e desejo é que tratar o luto com medicações é uma forma justamente de não tratar. Está explícito que o paciente nos traz de "bandeja" que seus males estão diretamente ligados a algo que não sabemos muito bem o que, mas alguma coisa ligada ao parente e ao lugar que o paciente tinha também para o ente. Pois ele perdeu também este lugar.
Para finalizar a provocação, que não se encerra aqui, relato algo mais preciso que óbvio, veio da fala do paciente: "Quem eu perdi, falhou muito comigo. Mas, na hora que eu ficava doente, ele sempre estava lá. Era só ele que sabia o que eu tinha. Ele resolvia tudo e realmente cuidava de mim. E eu, quando me sinto mal, com aquele calor, aquela sensação de infarto, vou ao hospital e só me acalmo quando o médico diz que não tenho nada". "Eu até sei que não tenho nada, mas preciso que o médico me diga".
Não irei concluir justamente para deixar em aberto, mas, me parece que no hospital e adoecendo, é uma forma de não lidar com a dor de perder alguém e continuar apesar de...
Os sintomas aparecem para tamponar a falta do outro. Dando remédios, até podemos "remover" alguns sintomas. Porém, e o buraco? Como o paciente poderá se defender do buraco, da falta? Esta, não se "remove". A falta, demanda ser resignificada, elaborada. Como dizia Freud em "Recordar, repetir e elaborar", o que não é elaborado, se repete. Até que...

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