sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Problemática levantada- escola empresa

Refletindo sobre o lugar metafórico da escola, coloco que a instituição escolar neste momento contemporâneo se tornou uma instituição nos mesmos moldes de funcionamento de uma empresa. O cliente demanda. A empresa, atende. A escola atende o pedido dos pais. Os alunos que captam essa demanda por sua vez, dizem aos professores: "Eu te pago, você deve fazer tal coisa..."
Os pais querem uma escola ou que insira seu filho no mercado de trabalho ou que privilegie a construção do conhecimento ou que mescle essas duas vertentes. A escola, por sua vez, faz esforços para atender o cliente, caso contrário, não terá alunos.
A problemática que levanto é sobre este atender ao pedido dos pais e suas consequências para o próprio aluno. Claro que ouvir os pais é importantíssimo para localizar a criança e sua relação com o saber, para saber o que os pais esperam, enfim, como um pano de fundo para o que talvez seja o essencial.
O fundamental me parece ser fazer o que se diz. Se é melhor o construtivismo, o sócio, o tradicional, não importa tanto. Importa sim, se o que a escola diz acreditar, se ela faz.
Por isso, esse "atender" ao pedido dos pais, me parece ser perigoso em relação ao comprometimento com as crenças educacionais. Talvez não seja um pedido tão disparatável. "Faça meu filho um estudante"; "Estimule o desejo de saber de meu filho"; "Faça ele entrar no vestibular".
Pedidos genuínos. A questão que se impõe talvez seja no COMO é atendida a demanda dos pais.
A empresa escola então, presta serviços aos pais e alunos tentando dar conta de atender a demanda dos pais. E os alunos? Como ficam? Essa é uma outra questão, mas o que se impõe agora é o lugar do professor já que le é quem vai tentar dar conta deste atendimento.
Ele, no meio de uma espécie de guerra. Tem que atender ordens de superiores, tem que dar conta de classes com 30, 40 alunos ou mais, tem que dar todo o conteúdo. Já pensaram como ele se sente ao final de um dia? Suas angústias, seus fracassos certeiros. Sim, neste jogo de atendimento de demandas o fracasso é certo já que é humanamente impossível dar conta desta guerra.
Com tudo isso, o aluno é o que mais perde. Perde na relação com o professor que já entra uma pilha de nervos para dar aula, perde então no desejo de saber pois a relação com o professor é o motor do desejo de saber. Na maioria das vezes, não tem como digerir esse excesso, degustar e desejar novos saberes.

2 comentários:

  1. Concordo com a idéia de escola empresa que, na maioria das instituições vêm perdendo o seu caráter humanizador, seja na abordagem do conteúdo seja na relação interpessoal entre todos da comunidade escolar. Não concordo que seja uma situação de guerra, mas muitas vezes é meramente uma relação comercial, onde os alunos e país são tratados como cliente que têm sempre a razão. Existe um distanciamento do professor e do aluno, que muitas vezes pode prejudicar o aluno (nem sempre), mas é obrigação do professor se preocupar com o aluno além das questões meramente acadêmicas.
    Eliane Oliveira - Geógrafa

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  2. Sim, talvez seja um exagero o termo guerra para caracterizar o lugar do professor nesta relação comercial. Porém, lamentável e preocupante que não se manifestem questões referentes a este tipo de vínculo. Penso que os sintomas infantis de fracasso escolar, explicitam uma espécie de ausência de perguntas referentes ao lugar da escola (empresa) e ao desejo de saber. Como fica a pulsão de saber neste vínculo "empregatício?

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